Que barato que nos créditos de abertura, acompanhando a escandalosa trilha de suspense, vemos imagens da montagem de velhos aparelhos de televisão. Não se trata de algum vídeo sinistro de fábrica antiga, ou da inserção de um elemento maligno no meio dos componentes eletrônicos na linha de produção, é apenas um dos processos menos assustadores do mundo em andamento. A fotografia lavada e amarelada é ainda menos apropriada para o terror, mas casa com as primeiras cenas que apresentam os personagens que moram na residência, um a um em cortes rápidos, parecendo um episódio de A Grande Família. Dois casais, a sogra, a filha mais nova dela e duas crianças morando sob o mesmo teto, indicam que se tem alguma maldição se aproximando da família, ela vai ter mais de trabalho do que o “normal”. Avançando na história, descobrimos que a resistência que o medo encontra para dominar o filme, não vem exatamente do grande número de pessoas que poderiam se unir contra ele, mas sim do fato de que este é antes de mais nada um filme sobre uma família tradicional indiana, com o terror no cantinho da sala, esperando a vez de brilhar e tirar o amarelado da tela, mas só depois que 13B cumprir com todas as obrigações cinematográficas da cultura do país.

No apartamento recém-adquirido pelos homens da família, o único a notar fenômenos estranhos é Manohar, mas não poderia ser diferente já que ele é o alvo solitário das travessuras sobrenaturais, não apenas da residência, como do prédio inteiro. O elevador não funciona quando Manohar está sozinho e o celular dele apresenta problemas quando ele está em casa. Dois acidentes domésticos machucam o rapaz (em um deles, as gotas de sangue desenham o número 13 no chão, é uma fofura!), então se pelo menos Manohar ficar esperto com os sinais, nem tudo está perdido. O leite estraga todos os dias e ninguém consegue pendurar quadros de divindades na tradicional sala de oração, porque as paredes se recusam a aceitar pregos, mas nenhum destes recursos batidos do gênero são páreo, para uma das premissas mais interessantes e intrigantes que eu já vi em um filme de terror: somente na televisão daquele apartamento, iniciando exatamente às 13 horas da tarde, uma telenovela invade a programação com uma história que imita a vida da família, atores parecidos interpretam os “papéis” dos moradores da casa e como a narrativa transmitida se passa algumas horas no futuro, o evento surreal acaba servindo de instrumento de previsão, mas somente para Manohar, já que o restante da família está distraído/ocupado/entretido demais com o aparelho de t.v. para compartilhar o sentimento que mistura fascínio com pânico, tomando conta do rapaz. 

Antes de prosseguirmos com este fenômeno absolutamente surreal, o filme pausa para um videoclipe estrelando Manohar e a esposa! Para quem não está acostumado com um break musical durante um filme de terror, como eu, as duas vezes em que o evento acontece parecem uma invasão, mas como eu disse, primeiro o respeito pela cultura e depois pelo gênero do filme, porque ansiedade e apreensão com o sobrenatural estão totalmente permitidos, mas aqui ainda é Bollywood. Para que o público saiba que está entrando na porção terror… deste filme de terror, a câmera balança e balança muito. É como se o Mal de Parkinson e a trilha no volume máximo, tivessem a função de nos avisar dentro de uma produção que atende a todos os tipos de cinema, inclusive aos musicais, que a tensão do personagem está ligada a algo paranormal. Neste momento, eu peço um pouco da sua compreensão com esta abordagem incomum, que desafia o nosso entendimento sobre como o horror funciona. A linguagem de minissérie, que nos enrola e adia a progressão dos acontecimentos, tem um charme que é só dela e eu prometo, depois da licença poética dos clipes musicais, que substituem as montagens tradicionais de passagem de tempo na história, e passando a primeira metade das quase duas horas e meia de filme, o terror chega finalmente, com um mistério macabro que força Manohar a realizar um ótimo trabalho investigativo, para salvar a vida da família que só sabe comer e celebrar pelo filme inteiro.

O título do filme está correto, porque o que acaba conectando a família-margarina aos fantasmas que a cercam, é o número fatídico do apartamento, mas isto é o que menos importa. 13B é um terror sobre superstições e sobre a interpretação do sobrenatural, de acordo com a visão religiosa de um povo. Eu posso revelar aqui que o filme escolhe o que é importante esclarecer e o que não é, deixando o público no vácuo sem dó, ou quais fenômenos tinham explicação e quais eram um truque, para que pelo menos um membro da família se importasse e desse atenção aos espíritos, em um apartamento no qual todos deixam bem claro desde o início, pertencer à categoria de impossível escapatória, pelas pesadas prestações que ainda precisam ser pagas por anos. Manohar está vivendo sozinho o suspense e o terror, enquanto o restante da família está em gêneros mais suaves e o filme é um reflexo disso. O twist no final, não é tão diferente de muitas produções hollywoodianas, apenas é menos particular, jogando a família dentro de um perrengue que ela não fez absolutamente nada para merecer, só que este detalhe não faz da história menos pertencente ao gênero, na verdade, uma maldição aleatória e o modo (e velocidade) como ela escolhe avançar, não a deixa menos possível de acontecer. 

A conclusão da tarefa fantástica que é ser um expectador deste filme, não é livre de dificuldades e eu não estou falando apenas por esta ser no final das contas, uma novela de terror. B13 foi lançado em duas versões (Tamil e Hindi), com elenco e durações diferentes e foi necessário, pela indisponibilidade de cópias e alguns problemas técnicos, recorrer a ambas para ter acesso ao conteúdo total do filme, com músicas e tudo. Foi um pequeno parto e demorou para eu entender o que estava acontecendo, quando tudo o que eu buscava eram legendas que durassem o filme todo, mas eu estaria mentindo se dissesse que intercalar entre os dois projetos, com gente diferente interpretando os personagens e confundindo minha cabeça um pouco mais, não tornasse ainda mais memorável e especial, este verdadeiro acontecimento em forma de filme. O vizinho idoso e obviamente sábio, por ser cego, explica para o atormentado Manohar que desde que eles se mudaram para lá, só coisas boas acontecem para a família, até que um dia a sorte muda e o morador é obrigado a enfrentar o sobrenatural. Ainda bem pelo vizinho, porque até então eu estava tão perdida quanto os outros membros da família, achando que aquela era somente a novela menos dramática e sem novidades do mundo, ainda que imperdível. Um filme complicado de aceitar, envolto em uma atmosfera de ingenuidade encantadora.