Senhoras e senhores, estamos naquela época do ano em que olhamos para trás e vemos apenas sangue e maldade. O bom é que os créditos sobem e o trauma é suave, porque era tudo de mentirinha, apesar de que alguns terrores tiveram a força para saltar da tela e causar pesadelos… tudo em nome da diversão. Teve muita coisa boa e você pode encontrar vários títulos deste ano pelo blog. Os melhores, a maioria estreando aqui, estão na lista abaixo:

30 – SUMMONING SYLVIA

Com a atmosfera e quase o mesmo tempo de duração, de um episódio de alguma série antológica, este delicioso terror feito para provocar gargalhadas, no qual os sustos acontecem geralmente pela histeria de personagens espalhafatosos, o mistério de um jovem morto há muitas décadas pela mãe, Sylvia, pode até ser intrigante e assustador, mas jamais irá tirar o brilho das verdadeiras estrelas do filme: quatro amigos gays, utilizando a casa mal-assombrada para realizar uma despedida de solteiro para um deles com canto, dança, pegação, alfinetadas ofensivas e uma sessão de bruxaria, cheia de teatralidade e nenhuma seriedade. A chegada de um hétero não-convidado e nada entusiasmado com a companhia, irá despertar sentimentos desagradáveis entre os rapazes, além de um trauma antigo dentro da casa, para levantar todos os fios de cabelos naturais e de perucas formidáveis. Summoning (convocando) Sylvia é leve, curtinho e hilário, dando preferência para deixar a violência acontecer por acidente e a hostilidade virar um simples mal entendido, mas não sem antes causar aquele medinho suave, que seria solucionado depressa com um pouco menos de gritaria… mas também não é possível ser fabuloso, ou terrível, sem uma dose cavalar de comportamento escandaloso.

29 – BROOKLYN 45

Após o fim da Segunda Grande Guerra, no bairro mais famoso de Nova Iorque, cinco veteranos do exército se reúnem para relembrar o passado. São amigos de alta patente, idade avançada e muito respeito uns com os outros, mas desde o início daquele encontro, naquele apartamento decorado no estilo militar, o clima é tenso. É noite de Natal, então a história de fantasmas apropriada, seria aquela do velho rabugento sendo visitado por três espíritos representando o passado, o presente e o futuro, mas os personagens deste filme não podem esperar o mesmo nível de ternura do além. Por suas condutas no campo de batalha, eles podem ser considerados criminosos de guerra, com chocantes descrições de tortura dos prisioneiros alemães, ainda mais quando os relatos acontecem sem remorso, entre o jazz na vitrola e o uísque caro nas mãos. A pedido do dono da residência, que ficou viúvo recentemente, eles realizam uma sessão espírita sem muita técnica, mas cheia de esperanças. O objetivo é descobrir se há descanso para os que estão do outro lado, mas considerando o histórico dos soldados e o barulho desconcertante vindo das paredes do apartamento, está claro que o contato sobrenatural busca reparações. Para os envolvidos, uma guerra nunca termina, mas em Brooklyn 45, ela se espalha como um vírus para os não-envolvidos também. 

28 – BATEM À PORTA (KNOCK AT THE CABIN)

O mais fácil para todo mundo, é aceitar que Shyamalan vai continuar ignorando o entendimento geral sobre bom senso, testando de tempos em tempos a capacidade do público de acreditar nas ideias absurdas que ele inventa, com resultados geralmente decepcionantes. Não gostou da minha musa/fada/deusa saída da piscina do condomínio? Que tal minha praia onde as pessoas envelhecem anos em minutos? Também não agradou? Que tal árvores que provocam suicídio?… Vamos todos abraçar o homem que nunca se intimida com o fracasso, porque ele é um diretor que se arrisca e sempre teve talento para a criação que foge dos padrões. Nesta história, um grupo de pessoas normais, tendo visões apocalípticas há algum tempo, se reúne para convencer uma família, de que um deles precisa ser sacrificado, senão o mundo vai acabar, com toda a humanidade morrendo em uma onda crescente e ininterrupta de desastres naturais e acidentes gigantescos. É claro que a morte de uma pessoa vale a pena, para salvar um planeta inteiro, a questão aqui é a razão por trás da escolha da oferenda e de quem a receberia, para colocar um fim nas catástrofes. De qualquer maneira, Batem à Porta não perde o nosso interesse, sem nos fazer torcer completamente para nenhum dos lados, enquanto assistimos pela televisão, junto com todos os personagens naquela cabana, às impressionantes sequências de destruição que confirmam a profecia.

27 – RENFIELD

Ele é um dos mais icônicos vilões do gênero, mas apesar de ser interpretado com aquela garra surreal pelo ator Nicolas Cage, o grande Conde Drácula não é a estrela deste filme. Renfield, o servo do mais famoso vampiro do cinema e da literatura, se encontra totalmente esgotado depois de séculos à serviço de um chefe exigente e violento. O trabalho de Renfield é atrair vítimas para o vilão que ainda está em recuperação, depois da passagem do último “Van Helsing” pelo caminho dele. Cansado de ser desvalorizado, o funcionário busca um grupo de apoio focado em relacionamentos abusivos, abrindo a mente para a possibilidade de empregos menos tóxicos, ou que não envolvam assassinatos, por exemplo. A história se passa em Los Angeles nos dias de hoje, dando ao monstro clássico todas as atualizações necessárias, para que sua vilania volte a ser pavorosa, como era na época e para o público de Lugosi. O filme conta com diversas cenas de ação modernas e um drama paralelo envolvendo crime organizado. É nele que o herói encontra uma musa e uma inspiração, com uma policial lutando praticamente sozinha contra um inimigo considerado indestrutível. É tudo uma grande e divertida sessão de terapia. 

26 – NÃO ABRA (IT LIVES INSIDE)

A americana Samidha, ou Sam, como ela prefere, foge dos costumes e tradições indianos, especialmente na escola, onde claramente teria todo o apoio dos colegas, caso estivesse em sintonia com a cultura da família. Ela sempre “esquece” de levar para a escola o lanche que a mãe prepara (provavelmente rico em aromas não-industrializados) e evita falar a língua que os pais mantém como a principal em casa. A jovem tem uma reclamação legítima, em relação à cobrança excessiva de continuar o legado; algo do tipo… para que mudar de país, se vamos continuar vivendo como se estivéssemos no país de origem? O problema é que o demônio que se aproxima, depois de destruir a vida de outros jovens de origem indiana, em uma maldição que foi trazida com os imigrantes sem ninguém perceber, é que ele não está nem aí para os desejos de Sam e fará de tudo para que ela não perca suas raízes, até mesmo atacar gente de outras culturas, transformando a garota no que ela mais teme: ser vista como diferente e perigosa. O terror em Não Abra não respeita fronteiras, com uma história típica da terra dos djins, contada em duas línguas, que só se torna fatalista para vítimas que não se aceitam como são, ou como ficam. 

25 – A NOITE DAS BRUXAS ( A HAUNTING IN VENICE)

O ator e diretor Kenneth Branagh, deixou as adaptações de peças de Shakespeare um pouco de lado, para prestigiar outra autora da terra dele, a britânica Agatha Christie, na direção e no papel do detetive Poirot, neste que já é o terceiro filme baseado no personagem. Com bastante elegância, Branagh permite que o sobrenatural saia de cima do muro, deslocando o detetive do mistério policial clássico para o terror, com bons sustos, ótimas atuações de mais um elenco competente reunido sob sua supervisão e uma história perfeita para a noite de Halloween. Em Veneza, tentando sem sucesso curtir uma aposentadoria anonimamente, Poirot atende ao pedido irrecusável de uma amiga, para acompanhar e tentar desmascarar uma médium famosa, na mansão que já era considerada amaldiçoada, antes mesmo da filha da dona cometer suicídio. A atividade sobrenatural de invocação dos espíritos, que ele de cara classifica como fraudulenta, o impulsiona a ir embora. A tempestade que agita os canais da cidade, o força a ficar. O surgimento de novas vítimas fatais na residência, o inspiram a trabalhar novamente.  

24 – HUESERA

Muitas vezes planejamos um futuro perfeito, que pode não ser nada do que queremos de verdade. Fazemos isso para cumprir com um protocolo informal, que não nos é imposto, mas que percebemos observando o andamento das vidas ao nosso redor. “Já tenho tal idade, deveria ter conquistado tal coisa”, é a cobrança que fazemos em nós mesmos quando estamos perdidos e fazemos nos outros, quando estamos ainda mais perdidos. Huesera, ou “ossuda” fala das consequências possivelmente fatais das escolhas feitas por conveniência, utilizando uma entidade sobrenatural assustadora, que se aproxima da protagonista exigindo atenção e uma bela e cuidadosa olhada para quem ela deixou de ser, por medo. Valeria está casada com Raúl e os dois esperam um bebê. Quem a viu rezando aos pés da santa no começo do filme, para conseguir engravidar, nem imagina o quanto ela não leva jeito com crianças. O estranho é que até as crianças já sabiam o que ninguém, nem a futura mãe, ousa enxergar. A aflição no filme cresce junto com a barriga, só dando trégua em um desfecho de cortar o coração, mas absolutamente necessário.

23 – THE BLACKENING

Não é pela comédia, que às vezes exige um senso de humor do tio do pavê e um certo conhecimento de história norte-americana. Também não é pelo comentário social, do qual o filme é recheado, colocando como slogan “Não podemos todos ser o primeiro a morrer”, que expõe uma prática tão recorrente que virou piada interna do cinema de terror, com personagens negros sendo sempre os primeiros sacrificados por algum maníaco, de um conjunto de vítimas de raças diversificadas. Se todos são negros, todos têm chance de sobreviver, diz este filme. Mas o que realmente segura a plateia em The Blackening (The Happening + black), é o terror. É tentar descobrir quem orquestrou todo aquele plano sangrento, com o uso de dispositivos medievais e jogos racistas, para punir um grupo de amigos se reunindo em um chalé isolado, para comemorar o feriado de emancipação dos escravos nos Estados Unidos. O filme passa o recado pretendido, é apavorante e imprevisível, zomba do preconceito, zomba das vítimas, da cultura do país e faz tudo isso sem a mínima intenção de incentivar mais separatismo do que já denuncia.

22 – V/H/S/85

Se os realizadores estão animados, para continuar produzindo edições cada vez mais respeitáveis destes filmes, elas continuarão a fazer parte da lista! As antologias temáticas da série V/H/S estão ficando ousadas, adicionando ainda mais requisitos para os diretores independentes que querem participar da produção. Desta vez, conferimos curtas do ano-título que aparecem em uma fita única, supostamente gravando a programação de alguma emissora, enquanto o sinal é invadido pelas captações mais malucas e sinistras. Com uma competente reprodução da época e a maioria dos segmentos sendo de qualidade, o filme ainda conta com um feito inédito: a continuação de um curta mal-concluído, em outro curta que aparece bem depois no filme. Qualquer um de nós fãs, teria curtido V/H/S/85 sem muitas expectativas, por ele fazer parte da franquia, mas só isso não seria o suficiente para garantir o próximo filme. O lance é surpreender o público com renovações a cada produção, evitando que ele se canse da fórmula. Esta é uma proposta inteligente para fidelizar os clientes, quando não se pode contar com atores famosos, campanhas de marketing milionárias ou cinéfilos que não gostam de sentir medo.

21 – A FÚRIA DE BECKY (THE WRATH OF BECKY)

Ela está de volta, mais terrível do que no primeiro filme, abraçando a rotina de uma candidata à delinquente juvenil, sem desejo algum de retornar a uma vida normal. Seus pais estão mortos e ela não quer outra família. Esta é a escolha e todos vão ter que respeitar. Eu nem tinha me dado conta de que a primeira história, além de deixar o cão de guarda Diego vivo, para que a garota tivesse pelo menos um ente querido, deixou também o público sem respostas sobre o que aquela chave poderia abrir, para causar tanto fascínio nos fugitivos nazistas e tanto rebuliço na vida da jovem. É obvio que uma sequência para o primeiro filme era absolutamente necessária, mas os bandidos não deixaram pistas sobre o objeto, então Becky vai ficar quietinha no canto dela, sobrevivendo como pode… não, não vai! Esta psico-teen, cheia de ódio e sede de sangue, não demora para arrumar encrenca com gente muito perigosa e tão violenta quanto ela. Novamente, um ator veterano em comédias faz uma atuação admirável como o líder dos inimigos, que são poucos, porém das mais variadas e exóticas personalidades, mas nenhum deles pode mais do que a final girl dos infernos. A dupla que dirige o filme é diferente, mas a energia é a mesma. Gente, como Becky é divertida! Doente, mas divertida. 

20 – BOOGEYMAN – SEU MEDO É REAL

Baseado em um conto de Stephen King, que precisa bater ponto no cinema de terror todos os anos, esta é a história do bicho-papão e como ela é tão nossa quanto é do autor, os realizadores se certificam de que o terror salte para fora das telas, com sequências em que o sentimento maligno seja somente de quem assiste ao filme, enquanto quem faz parte dele, não se dá conta do que está acontecendo. Mesmo com um tema universal, Boogeyman nos diz que seu vilão não é aleatório, sendo atraído para casas com famílias em luto, como um monstro covarde e impiedoso assediando vítimas já vulneráveis. Pior ainda, seu alvo são os mais novinhos, propensos a fantasias e amigos imaginários, dificultando ou impossibilitando que os adultos ao redor acreditem na necessidade de ajuda, além de um abraço apertado e um beijinho na testa. No caso da família deste filme, o pai é um profissional dos sentimentos humanos, treinado para identificar os motivos por trás deles, mas sofrendo com a viuvez repentina e se recusando a lidar com ela como deveria, seus dons para a psicologia ficam falhos e abrem as portas para que as filhas dele virem um alvo fácil, de uma entidade maligna na qual ele não bota fé suficiente para comprar uma simples lanterna, para aquela casa enorme e sempre escura. 

19 – GOOD BOY

Com uma certa regularidade, uma ideia esquisita consegue financiamento e distribuição modesta, à princípio dando o ar da graça pelos festivais de cinema do mundo, como este filme, que gente que aprecia este tipo de iguaria exótica, como eu, só consegue encontrar por enquanto dublado em português. Todo ano tem o seu Dentes Caninos (2009) e este terror com um pouco mais de uma hora, das terras geladas da Noruega, é a obra-prima do bizarro-sem-um-pingo-de-remorso deste ano. Atualizando nossos conceitos sobre “destinos piores do que a morte”, Good Boy é a história de uma estudante que conhece um belo rapaz em um aplicativo de relacionamentos. Ele é um milionário, possui dotes de um chefe de cozinha, é educado, cavalheiro… mas mora com um cara que vive como se fosse um cachorro. Comendo a ração, latindo e vestindo uma fantasia que ele só tira para tomar banho, provavelmente com a mesma frequência de um animal. Depois de relutar, a aspirante à psicóloga aceita a doideira e o relacionamento é a melhor coisa do mundo, por incrível que pareça. Um dia eles resolvem fazer uma viagem, levando o cachorro, é claro e o namorado sugere que eles guardem os celulares fora do alcance imediato, para evitar distrações. A moral da história é primeiramente, galera, cuidado com o Tinder! Segundamente, você não precisa concordar com todos os fetiches do mundo, por medo de parecer retrógrado.

18 – OLHAR ALHEIO (UNSEEN)

Emily escapa de um sequestro que a deixou perdida na floresta, mas o problema não é só o ex-namorado enlouquecido e armado que a persegue. Ela quebrou os óculos na fuga, ficando praticamente cega e ainda usando cores chamativas, que ajudam somente o sequestrador naquele cenário verde. Por sorte, ela consegue ligar para a desconhecida Sam, uma atendente de loja de conveniência, ansiosa até o último fio de cabelo. A ideia é que Sam guie Emily até um local seguro, através de video-chamada e se o plot parece familiar, é porque ele é mesmo. Tem sempre alguém em apuros no cinema, encontrando mais ajuda com um estranho do que com a polícia, mas Olhar Alheio não perde nada por ser costumeiro. O laço que se forma entre as protagonistas, é tão prazeiroso de acompanhar quanto o crescimento individual de ambas, em uma situação de estresse que não dá tréguas. A tela que se divide ao meio de vez em quando, mostrando as diferenças e as semelhanças das realidades paralelas das jovens, é um ótimo recurso para deixar o filme ainda mais dinâmico. Emily e Sam são boas personagens, com histórias interessantes, mas o verdadeiro bônus aqui, algo que todos podemos apreciar, é a possibilidade de retaliação contra o ex-namorado psicopata. 

17 – O URSO DO PÓ BRANCO (COCAINE BEAR)

Por mais ridícula que seja a premissa, ela é inspirada em um fato pouco explicado dos anos 80. No filme… e na vida real, um carregamento de cocaína vai parar em uma floresta, só que nesta história, o urso que a encontra não morre após consumir o equivalente à 20 milhões de dólares da droga. Aqui ele fica imediatamente viciado, caçando os pacotes da substância por um parque nacional cheio de guardas florestais, criminosos em busca da mercadoria, crianças perdidas e todos os turistas desafortunados naquele dia fatídico. A diretora e atriz Elizabeth Banks, está completamente ciente de que a ideia do filme o coloca primeiro na categoria de comédia, mas nunca permite que os momentos engraçados, que são muitos, diminuam o peso de cada cena em que o animal aparece, com toda a fúria que a natureza lhe concedeu, vendo qualquer pessoa perto do seus preciosos pacotes. O filme nem é classificado como terror oficialmente, mas a matança é tanta, tão grotesca e tão impiedosa, em uma história super divertida, que este blog o acomoda sem hesitar. 

16 – FRIO NOS OSSOS (LITTLE BONE LODGE)

Não podemos revelar muito sobre Frio Nos Ossos, mas é seguro presumir desde o início que ninguém é de confiança. Parte da diversão e da tensão, está em descobrir quem representa mais perigo. A história se passa durante uma tempestade, em uma casa de campo onde mãe e filha comemoram o aniversário do pai da família. É importante mencionar que o homem sofre com uma doença degenerativa, só para que fique claro que se alguma coisa ruim acontecer, as mulheres da casa estarão por conta própria. Quando o bolo está prestes a ser cortado, um homem transtornado, tentando salvar o irmão acidentado, bate à porta pedindo ajuda. O acidente de carro que quase matou os rapazes é bem real, mas também é uma das poucas informações verdadeiras que recebemos deste filme. A história é reviravolta atrás de reviravolta, com atuações brilhantemente ambíguas e um final cheio de maldade. 

15 – ISOLAMENTO MORTAL (SICK)

Hollywood é tão pedagoga com vários assuntos, especialmente com a recente e controversa discussão sobre o uso de máscaras durante a pandemia, que é uma surpresa ver que o vilão nesta história, desta vez está do lado dos paranóicos. Sem julgamento nenhum, galera, só estou achando curioso que o roteiro tenha sido aprovado. O diretor John Hyams, do ótimo Black Summer (2019-2021), é mesmo um profissional sem medo de ousar. Na história, que se passa em 2020, duas estudantes se isolam em uma propriedade belíssima e afastada de tudo, quando são atacadas por um maníaco mascarado sem pressa, ou seja, louco para fazer um discurso sobre motivos e razões e tudo o mais. Só que esta necessidade de ser compreendido, sobrepondo o desejo de matar gente jovem e indefesa, vai custar mais caro do que ele poderia imaginar. O filme demora para pegar no tranco, mas quando pega, é uma maravilha. Outro talento de Hyams é criar sequências que vão do absurdo bem-humorado ao verdadeiramente tenso, sempre de maneira a valorizar o próprio trabalho, que seria apenas mais um terror genérico de baixo orçamento, sob uma direção menos entusiasmada. Me veio à mente agora, a cena do lago no escuro, sem o auxílio de outra assistida ou apenas do trailer, de tão angustiante que ela era. O mesmo vale, só que desta vez pela comédia, para a cena de um possível resgate da vítima na beira da estrada, com a motorista salvadora exigindo um ritual de higienização, antes de permitir que a coitada da vítima entre no carro.

14 – O CONDE (EL CONDE)

O monstro da vida real é recente e alguns dos crimes ainda podem ser punidos, portanto, o objetivo é cutucar feridas não-cicatrizadas de uma nação inteira. Concordando ou não com algumas colocações da produção, é fato que ninguém se opõe ao deboche generalizado em formato de filme, que é esta imaginativa comédia de terror sobre o ditador chileno Augusto Pinochet. O diretor Pablo Larraín (do incrível El Club – 2015), está empenhado em enfiar o máximo que consegue por tempo de filme, de insultos discretos ou descarados, não somente sobre o antigo líder da nação morto em 2006, como sobre os filhos do ditador, que supostamente vivem com o conforto proporcionado pelas falcatruas da família… algo que a população chilena decidiu esquecer. O Conde está aqui para lembrar o Chile e o restante do mundo, às vezes com humor, às vezes com uma seriedade desconfortável, do quão pervertida é a realidade de quem busca poder absoluto. Na história super fantasiosa, Pinochet é um vampiro de 250 anos que resolveu morrer definitivamente, depois de ver que o próprio legado só lhe trouxe o ódio do povo chileno. Ele pára de consumir sangue e os filhos chamam uma contadora, que também é freira, para dividir a fortuna em partes iguais e tentar exorcizar “o capeta que mora no papai”. Eles sabem a condição do idoso, mas preferem acreditar na ideia mais tradicional de possessão. Só que a freira trabalha para Deus e o papel dela de verdade é servir de inquisidora, expondo mais uma vez o que os mais jovens podem não saber sobre a história do país. 

13 – DEZESSEIS FACADAS (TOTALLY KILLER)

Um massacre tirou a vida de três adolescentes há 35 e em 2023, o assassino voltou para matar aquela que tinha escapado. Para a sorte de todos (e não vamos questionar de jeito nenhum), a filha da morta entra em uma máquina do tempo caseira (existe outro tipo?) e retorna para 1987, primeiro para simplesmente fugir do maníaco, que por alguma razão foi atrás dela e segundo, para descobrir quem é o mascarado, numa tentativa de impedir os crimes antes que eles aconteçam. Dezesseis Facadas é caótico, hilário e muito bem sucedido como um slasher. A cena da perseguição em um brinquedo de parque de diversões no estilo centrífuga, que obriga tanto o assassino quanto a vítima a se moverem lentamente, como personagens de terrores trash antigos, é um ótimo exemplo disso. Mas o que realmente faz do filme genial, é a proposta de colocar Jamie, uma adolescente politicamente correta, enfrentando o inferno do ensino médio nos anos 80, para só depois combater algo muito mais fácil, como um serial killer. O que é uma facada, perto do bullying generalizado e até incentivado de décadas atrás?

12 – INFLUENCER

Em Influencer, o diretor Kurtis David Harder, que também co-assina o roteiro, faz alguns alertas neste filme que deveria ser visto por todos os criadores de conteúdo, que sonham com fama e fortuna através das redes sociais. Primeiro que muitas sub-celebridades, por se limitarem ao nicho que alcançam, podem até conseguir patrocínio e seguidores, mas não o mesmo nível de proteção dos realmente famosos. Segundo que se algumas roupas bonitas, uma maquiagem bem feita e um cenário invejável, já são sinônimo de sucesso e se tornam a representação da vida real de alguém, então esta realidade pode ser facilmente replicada, por gente muito mal intencionada. Quando as hashtags da super fotogênica influenciadora Madison, chamam a atenção de qualquer estranho durante uma viagem promocional na Tailândia, o quarto de hotel da jovem é invadido por ladrões. A sensação de normalidade e o cumprimento de contratos publicitários, só se tornam possíveis após a ajuda e companhia inesperada da jovem CW, que oferece os serviços informais de guia, moradia e um pouco de tranquilidade para a turista. Sozinha, Madison é capaz de se manter relevante com publicações cada vez mais interessantes, mas a comunicação escassa levanta algumas suspeitas do ex-namorado/atual-empresário e o jovem faz as malas, para desvendar uma conspiração diabólica que está em andamento e ao que tudo indica, ela já deu certo com outros influencers.

11 – COLHEITA SOMBRIA (DARK HARVEST)

Nos anos 50, em uma cidade americana isolada do restante do país, toda noite de Halloween representa uma luta coletiva por sobrevivência. Como algo extraído de um folclore, adequado para comunidades menores e bem mais arcaicas, os moradores se unem para impedir o avanço de uma entidade (apenas uma, mas perigosíssima) que surge todos os anos da plantação ao redor, com o objetivo de invadir o solo sagrado de uma igreja. Se a população (na verdade, as regras limitam a honra do combate, aos adolescentes do sexo masculino)… conseguir neutralizar a criatura em tempo, a cidade terá um ano de prosperidade e o jovem que derrotar o bicho ganha algumas regalias, como a possibilidade de se mudar para qualquer lugar do país. O fracasso na caçada, traria uma praga com o potencial para matar a cidade inteira. Eu não vou esconder que algumas surpresas do filme sejam previsíveis, mas isto faz pouca diferença quando a história nunca deixa de ser envolvente. Colheita Sombria é um independente super engajado, bem produzido e com uma quantidade absurda, porém plausível de carnificina. Pontos extras para o filme, ficam por conta de “Sawtooth Jack” ou “João Dentes de Serra”, o pavoroso vilão, em mais de um sentido. 

10 – JOGOS MORTAIS X (SAW X)

O filme é o mais recente da franquia, só que a história se passa no início da trajetória do assassino. O interessante é que desta vez o grande jogador recebe uma rasteira, que nem sua mente brilhante poderia antecipar. O que os trambiqueiros internacionais não sabem, convencendo doentes em estado terminal desesperados, a doar tudo o que têm por uma cura milagrosa, é que eles estão mexendo com o cara errado, com a vítima que se recusa a ser vítima. Ao se dar conta da artimanha e… não é atoa que ele ficaria famoso pela crueldade nas lições morais que concede a seus “alunos”, John Kramer se aventura em uma caçada pessoal, deixando um pouco o personagem Jigsaw (que sempre foi mais uma ideia do que um vilão) de lado, para ensinar aos golpistas sobre os tipos de brincadeira que são e as que não são aceitáveis em uma sociedade civilizada. De acordo com John, a tortura física que ele faz por amor à humanidade, é fichinha perto da emocional que gente ruim faz por dinheiro. A gente pode não apoiar uma filosofia sangrenta como a dele, mas não pode deixar de dar razão aos seus métodos educativos, quando pela primeira vez sabemos antecipadamente os crimes das pessoas presas às armadilhas.

9 – NINGUÉM VAI TE SALVAR (NO ONE WILL SAVE YOU)

A invasão alienígena é descarada, já que o mistério do filme é o silêncio forçado na personagem principal, Brynn, que não é capaz de conseguir ajuda, percebendo a presença do outro mundo antes de todos na cidade onde mora e é hostilizada. A melhor ferramenta de Ninguém Vai Te Salvar, é seguir o título do filme à risca e isolar a heroína completamente na luta pela vida, sendo que ela não está sozinha na cidade e tecnicamente tem recursos modernos à disposição, como transporte, ferramentas e armas. Primeiro é por vergonha de ter a própria imagem ainda mais manchada com os vizinhos, caso o evento extraterrestre seja limitado à residência dela. Depois, ao ver a mudança acontecer rapidamente nos outros moradores, ela percebe que é tarde demais para se redimir do que quer que seja e se juntar a possíveis sobreviventes. Outro recurso bem utilizado, é a diversidade nas aparências e nas habilidades dos invasores, que se alternam nos encontros com Brynn, variando as dificuldades nos combates. A narrativa é muito inventiva e apesar de ter seus defeitos, proporcionam uma experiência cinematográfica rara e empolgante.

8 – PÂNICO 6 (SCREAM 6)

Na metade dos anos 90, Wes Craven reanimou a categoria slasher, com um vilão que tinha uma enorme vantagem sobre os antecessores dos anos 80: a possibilidade de ser substituído por qualquer pessoa disposta a criar um massacre em seu nome. É por esse motivo que Ghostface chega até em Nova Iorque, como Jason chegou, só que sem a necessidade de explicações. Basta que as vítimas do antecessor tenham se mudado para lá. Craven previu um futuro no qual pessoas idolatram “trends”, mas ninguém poderia prever o quão longe iria a franquia mais auto consciente do terror, ainda inovando além das locações nesta sequência mais recente. Para a nossa surpresa, o vilão remove a máscara bem cedo, mas esta é a maneira que o filme usa para nos dizer que nem todos os seguidores de tendência, são dignos dela. Um problema moderno para as vítimas, são as fake news que deixam a vida de gente já traumatizada, ainda pior. Um problema antigo, é que a baderna típica da Grande Maçã, faz com que a metrópole seja tão insegura para quem grita com legitimidade, quanto para quem grita na cabana na floresta. Este novo Ghostface, pode até ser um copycat como outros, mas o fato de ele estar enfurecido com os personagens que escaparam no último filme, a ponto de não se importar com a luz do dia, o número intimidador de testemunhas e uma força policial bem mais expressiva do que apenas o Dewey, faz dele um vilão especial e rende ótimas cenas de perseguição com resultados inesperados.

7 – ATTACHMENT (NATTEN HAR ØJNE)

O primeiro encontro na Dinamarca, entre a nativa Maja e a britânica Leah é perfeito e elas não se desgrudam mais. O problema (à princípio) é que Leah está mal de saúde e se vê forçada à retornar para a Inglaterra, com Maja ainda grudada nela, onde ela irá morar perto, mas bem perto mesmo da mãe, uma judia bastante religiosa. Eu sei o que vocês estão pensando que poderia ser o problema principal, mas não estamos em um drama, graças a Deus! Não, nenhum preconceito neste filme pode ser mais importante do que os amuletos pelo apartamento, as velas que acendem sozinhas, a ajuda sendo oferecida de forma obsessiva e a superstição da mãe, que se esforça dia a e noite para manter a filha segura e a comunidade segura também, de qualquer coisa que possa se manifestar na filha. A conexão a que se refere o título Attachment, tem diversos sentidos no filme e são todos problemáticos. O medo é contagiante, mas ele acontece apenas pela expressão de preocupação dos personagens, que já viram a maldade em ação e estão com medo de que ela volte, porque nós deste lado da tela, não vemos nada e o sobrenatural é tão discreto, que as suspeitas de Maja sobre as intenções da sogra, são completamente plausíveis. Pelo menos bem mais aceitáveis do que a ideia de possessão que tomou conta da casa… até que o demônio se manifesta!

6 – BIRTH/REBIRTH

Um clássico do terror ganha uma nova roupagem, que ardilosamente nos lembra de que algumas objeções morais não devem ser violadas, nunca, ao mesmo tempo em que deixa claro, que não conseguiremos ver as protagonistas deste filme macabro como vilãs, não apenas por solidariedade, mas também por perceber que a punição vai durar pelo mesmo tempo da insistência no erro. Na história, a competente enfermeira Celie trabalha no mesmo hospital que a brilhante legista Rose. Uma é um amor de pessoa, até a grande tragédia acontecer, enquanto a outra sempre foi uma antipática, com ou sem um projeto revolucionário nas mãos. Quando a pequena Lila morre, a mãe Celie nem questiona o crime contra a humanidade cometido por Rose, na surdina, ao trazer a menina de volta à vida, mas deveria. O feito histórico, gera uma mini-Frankenstein que jamais conseguirá ter uma vida normal novamente, algo que é sombrio e doloroso de testemunhar, até para o público, que também não teria coragem de pedir para a mãe da menina deixa-la partir de uma vez por todas. Um filme desconfortável, livre de clichês e imperdível. 

5 – FERIADO SANGRENTO (THANKSGIVING)

Esta é a história de um aspirante a Michael Myers, em um feriado que desesperadamente precisava de um vilão próprio. O fato de que a origem do serial killer, vem de um desses desastrosos tumultos de Black Friday (aquela recente e vergonhosa tradição, de pisotear outros compradores durante liquidações, para garantir uma torradeira de dez dólares), transforma o filme na sátira… da sátira consumista, na qual se tornou o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. Inspirado por um dos trailers falsos da iniciativa Grindhouse (2007), da dupla Robert Rodriguez/Quentin Tarantino e dirigido por Eli Roth, Feriado Sangrento não é apenas tudo o que se espera de um slasher, mas é também o que se espera de um slasher de Roth: exagerado, sanguinolento e muito engraçado. Em uma cidade considerada pacata, um assassino fantasiado de peregrino americano, se vinga dos consumidores desalmados, responsáveis indiretos por um massacre em uma loja de departamentos no ano anterior. No filme, a identidade do assassino é o de menos, porque o que realmente importa é o quanto ele se diverte (e nos entretém) com a matança.

4 – HELL HOUSE LLC ORIGINS – THE CARMICHAEL MANOR

Gente, como vocês não me avisam que Hell House tinha virado uma franquia? Foi necessário um mini-dever-de-casa, não somente para relembrar o original de 2015, mas também para conhecer os outros dois filmes, que completam o que se tornou uma trilogia, da saga em formato found footage sobre o Abaddon, um hotel desativado e transformado em uma trágica atração de Halloween, que não gerou nada para os investidores a não ser vítimas fatais. Neste filme mais recente, que de maneira competente serve de continuação e também de história de origem, a linguagem continua a mesma com a ideia de um documentário sério, que utiliza imagens recuperadas do local das mortes, mas estamos em um ambiente diferente. Caçadores de histórias sobre crimes verdadeiros, se instalam na mansão Carmichael com o intuito de investigar a misteriosa e bárbara morte de uma família, ocorrida há décadas atrás. O filme começa a partir da morte de todos estes investigadores, mas com o nome “Origins” no título, obviamente podemos esperar uma conexão entre a mansão e o hotel. A sensação de tragédia iminente e inescapável, a sobriedade nos depoimentos, que servem de pausa para os momentos mais tensos, o pânico crescente nas vítimas e as aparições nada suaves e constantes de fantasmas malignos por toda a casa, indicam que este novo cenário sofre dos mesmos sintomas, que transformaram o Abaddon em uma verdadeira porta para o inferno, assim como provam que o novo filme surge com a vitalidade do original, que eu considero um dos melhores trabalhos de found footage do terror. 

3 – A MORTE DO DEMÔNIO – A ASCENSÃO (EVIL DEAD RISE)

Quando o Necronomicon sai da cabana na floresta, somos obrigados a esperar uma narrativa cômica, como se os deadites estivessem de férias em outra época da nossa história, como a Inglaterra medieval por exemplo, mas isto não acontece. O cenário é Los Angeles, em um prédio que deveria estar desocupado, mesmo antes do terremoto mais recente, mas parece que nada faz diferença para os demônios que estão prestes a atacar uma família (outra inovação) que já anda mal das pernas. Não é que o filme não tenha senso de humor, mas é que ele tem tanto sangue e tragédias, que fica difícil sentir outra coisa além de medo, principalmente quando a primeira fatalidade é a mãe da família sem pai, forçando filhos pequenos a lidar com todo o caos que sabemos ser quase inescapável. A Morte do Demônio – A Ascensão, não se segura por incluir crianças na história, não se acanha por ter vizinhos no prédio e não deixa o trash de lado por ser um filme moderno. Não há misericórdia ou negociação. Sentimos falta de Ash? Bom, eu particularmente sinto falta de Bruce Campbell em qualquer filme na minha vida, mas temos o bastante das outras coisas indispensáveis, para curtir demais esta versão, sem culpa e sem reclamar.

2 – FALE COMIGO (TALK TO ME)

Estreia na direção de dois youtubers do canal RackaRacka, este australiano chegou sorrateiro, se apresentando sem muitas pretensões, com um trailer que o vende como um terror adolescente genérico, surpreendendo os desavisados com um trabalho muito bem feito, em vários departamentos e gerando um boca a boca que nem os realizadores poderiam prever. O sucesso de crítica e de bilheteria foi gigante, com o mérito sendo de todos os envolvidos. Na história, uma atividade muito séria, até pelos padrões de personagens em filmes mais fracos no terror, está sendo encarada como uma brincadeira, por personagens que parecem gente como a gente. Esta percepção de proximidade, tem tudo a ver com o roteiro bem escrito e as atuações competentes. Os adolescentes com um artefato amaldiçoado, não duvidam do poder dele, mas a curiosidade faz com que eles ignorem as consequências que ele pode trazer, só que nem a certeza do perigo seria o suficiente para afastar a jovem Mia que, abalada com a morte recente da mãe, está desesperada por contato espiritual custe o que custar. O objetivo do filme é o realismo, naturalizando o sobrenatural. Não existem protagonistas na vida real, então ninguém está blindado nesta história, certamente não por ser o que mais sofre, nem por ser o que mais tem tempo de cena.

1 – WHEN EVIL LURKS (CUANDO ACECHA LA MALDAD)

Foi um bom ano, de obras memoráveis, mas eu digo que nada superou o efeito deixado deliberadamente por este argentino, que abraçou o terror com os braços e as pernas, para nos apresentar uma das melhores, mais originais e comprometidas histórias de possessão que eu já vi… e eu vejo coisa esquisita pra caramba!. When Evil Lurks conta a história de dois irmãos em uma distopia do qual o país inteiro participa. Demônios, são tão aprovados pela população como perigos do dia a dia, quanto criminosos de carne e osso que exigem a criação de forças-tarefa, ministérios e outras respostas burocráticas em uma sociedade civilizada. Uma pessoa da vizinhança é possuída e de repente o problema é de todos, que mal questionam a veracidade do fenômeno, antes de arranjar uma solução irresponsável, que pode piorar a situação. Não é sempre que temos o prazer e o estresse de acompanhar o desenrolar de uma catástrofe, cuja primeira indicação de ser uma representação do apocalipse, só apareceu quando todo mundo no filme já estava exausto, em luto e quase sem recursos. O público é metade pânico e metade esperança, assistindo àquelas cenas violentas e marcantes, torcendo para que um verdadeiro salvador da pátria chegue e coloque ordem na terra dos hermanos. Uma história de terror como poucas, que reforça a existência do mal absoluto, existindo entre nós como uma adversidade corriqueira e como acontece com muitos problemas comuns, a fé nos faz crer que a salvação vai chegar porque ela precisa chegar, sendo que nem a vida nem o filme nos prometeram absolutamente nada disso. 

E agora o Muito Molho entra em um curto recesso, descansando com animações e comédias românticas, mas muito em breve estaremos de volta, mesmo porque, não dá para aguentar sorrisos e fofura por muito tempo. Espero que gostem das sugestões acima e que elas os mantenham abastecidos do nosso gênero favorito.