Ainda dá para fazer este tipo de coisa, mas em 1985 era muito mais fácil enganar os desavisados, que entram na sala de exibição do filme pelo cartaz chamativo. “Uma espécie de Rambo estrelando Arnold Schwarzenegger, com certeza!”, todos pensaram ao ver o astro camuflado na capa do filme e isto não foi um acidente. Outra manobra enganadora, só que desta vez utilizando certos aspectos previsíveis da filmografia de Arnold, foi que nem quando o ator austríaco interpretava um vilão, ele estava em desvantagem no combate, então foi um choque e tanto quando o público viu alguém mais poderoso, mais bem equipado e… sozinho, confrontando aquele que era divulgado como o exército de um homem só. Diante de um consagrado herói da nossa espécie, estava um inimigo que nunca tínhamos visto antes. Caímos em uma armadilha. A verdadeira estrela deste terror da categoria “monstros” era inteligente, obstinado e estava rondando aquela selva por escolha, depois de um certo planejamento, como fazem diversos da espécie dele, sempre que invadem o nosso planeta na surdina em busca de oponentes capazes. Um alienígena que caça por esporte. Ele sim um Rambo, só que intergaláctico e sem escrúpulos.

Sabe o que deixa a situação ainda mais vergonhosa para a nossa espécie? Arnold não está sozinho. Um desfile de personalidades que batiam cartão em filmes da ação daquela época, acompanham o personagem Dutch, em uma missão secreta na selva de um país latino. Carl Weathers (Apollo, de Rocky) faz o enigmático ex-soldado que virou um consultor corporativo. O indígena-oficial dos thrillers policiais, Sonny Landham, continua calado e misterioso no papel de sempre. Bill Duke, que você já viu muitas vezes como vilão, faz presença de um modo diferente e interessante neste filme. O ex-astro de luta livre Jesse Ventura, que depois da carreira de ator ainda se aventurou na política, é a personificação de todos os brutamontes destes tipos de produção. A equipe clandestina ainda conta com outros ex-soldados, mas não faz tanta diferença, quando o adversário é melhor do que todos eles juntos. O que também destaca este filme de outros, principalmente pela época do lançamento, é que era uma história dos anos 80 sobre ações militares, mas que não servia nem como protesto (como foi Platoon, Nascido em 4 de Julho e Full Metal Jacket), nem como recrutamento (como foi Top Gun, Comando para Matar e tantos outros). 

Ainda assim, este é um filme que funciona como ambos de uma certa forma, ao obedecer às regras do terror. Você quer impedir jovens idealistas de se alistarem? Você pode usar um drama, ou um enredo apavorante que mostre o quão imprevisível e visceral qualquer combate pode se tornar. Se o objetivo é preparar jovens em países que vivem em conflito, utilizando a humildade prudente, ao invés da empolgação arrogante, o terror continua sendo o gênero correto! A pompa reservada aos heróis cinematográficos, tem função estratégica neste filme. É muito importante mostrar os personagens agindo no início, na fase de recrutamento, como se o trabalho fosse fácil e mais ninguém além deles tivesse acesso a um bom treinamento. A trilha sonora é a mesma que sempre acompanha os Yankees chegando de helicóptero em qualquer lugar. As caras amarradas dão a impressão de um grupo de elite e os mais descontraídos entre eles, fazendo piadas ridículas, não derrubam este conceito. A função dos engraçadinhos é mais do que servir de alívio cômico, eles vendem a segurança de que qualquer resistência naquele trabalho, será neutralizada rapidamente.  Só que vai além da ostentação, porque há muito profissionalismo e competência e o plano era nos convencer de que aquilo era o melhor que tínhamos a oferecer, só para puxar o tapete dos pés de todos os terráqueos, dizendo que se o rival for de um território mais avançado tecnologicamente, estar entre os melhores dentro de casa não significa muita coisa. 

A equipe de Dutch encontra o helicóptero que estava procurando, ou o que sobrou dele, mas não o alvo do resgate. A missão era extrair um diplomata da floresta, que desapareceu após a queda, em um país qualquer (eu escuto espanhol, mas vejo lugares como Recife e Belém no mapa… vai saber!). Como a viagem do diplomata era confidencial, somente mercenários poderiam tentar localizar e extrair o acidentado, ou o corpo dele, mas o que interessa para a história é que se alguma coisa der errado na missão, estes autônomos, ao contrário de soldados oficiais, precisam salvar a própria pele. Avançando para dentro da floresta, eles descobrem que outra equipe já havia tentado resgatar o diplomata e também desapareceu. Antes que acusações de traição ganhem grandes proporções e logo após acabar com a raça dos guerrilheiros locais, uma presença realmente estrangeira se faz notar nos arredores. Talvez pelo indígena que nestes filmes sempre possui um ziriguidum… um paranauê… e já começa a “sentir” a presença, mas seja o que for, rapidamente eles se reorganizam e se preparam. O problema é que ninguém está preparado para um inimigo que se camufla como o Predador, que se move na rapidez do Predador, que possui o armamento do Predador e que está ali, como esteve em tantas outras férias estelares, em busca somente de um desafio divertido.

As falhas na edição de som ficaram mais evidentes com o passar dos anos e os efeitos especiais já estão datados, mas gente, que ideia incrível e bem executada! Que timing perfeito para o lançamento! Que genial escalar Arnold, para nos fazer acreditar que pelo menos ele tinha chances de sobreviver e… duvidar da mesma possibilidade, já que o filme é cheio de surpresas. Como é interessante ver a música triunfal sendo substituída ao longo da história, por algo mais apropriado a um massacre que ninguém esperava. Que legal que o extraterrestre usa um uniforme! Isto ainda é tão raro em um filme de terror, quando o inimigo é de outra espécie e a melhor coisa, é tudo o que aquele visual é capaz de fazer, assim como as soluções inteligentes que são necessárias para combater algo tão além da nossa capacidade militar. Sai a testosterona e entre a calma, sai a tecnologia e entram os artifícios primitivos. Uma ficção científica de ação, com bastante adrenalina e mortes assustadoras, feita para apavorar os imunes ao terror tradicional.