Havia um grande atrativo para assistir este filme, do qual quase ninguém ouviu falar, que é o apadrinhamento de um dos meus diretores favoritos neste gênero, Justin Benson (responsável juntamente com Aaron Moorhead por The Endless, Resolution, Synchronic…) que não só tem um papel em As Coisas Serão Diferentes, como ficou engajado por meses nas redes sociais como produtor executivo, em uma campanha para promover esta que é a estreia em longas de Michael Felker, editor de muitos filmes da dupla. Era preciso saber se a genialidade esquisita, se o gosto por ficção científica mergulhada no terror e por roteiros nada convencionais, havia se espalhado pela equipe de produção de Benson e Moorhead. A resposta é: mais ou menos. A história é sobre uma viagem no tempo desastrosa, com a edição que apresenta uma confusão premeditada, bastante interessante, mas de genialidade duvidosa, que incentiva uma segunda assistida. No entanto, assistir ao filme, que é bem intrigante, mais uma vez para esclarecer dúvidas, não é um esforço, é diversão!

 Crescendo em um ambiente turbulento, Joseph e sua irmã Sidney são agora dois adultos problemáticos e endividados que passaram boa parte da vida adulta separados um do outro. Matando dois coelhos, eles decidem se unir novamente para mudar de vida executando o roubo perfeito. Na verdade, o crime é arriscado, mas a perfeição está no esconderijo, oferecido a Joseph por uma pessoa misteriosa, quando ele e a irmã ainda não tinham planejado nada. Uma casa de campo vazia há anos, com a qual eles não possuem conexões e na qual eles não serão perturbados. Aparentemente comum, a casa possui um closet estilo Nárnia que permite uma façanha milagrosa: mover os ocupantes para trás e para frente no tempo. Utilizando uma manobra que combina movimentos mecânicos com uma pitada de mandinga, os irmãos abrem um portal e são transportados para aquele mesmo closet, no mesmo quarto, só que algumas décadas no passado, quando o local era melhor conservado e havia comida disponível. A intenção é permanecer naquela época por duas semanas, enquanto as investigações sobre o roubo se acalmam no tempo atual, mas algo dá errado. A presença clandestina deles é notada por gente que vive “do lado de fora”, comandando os deslocamentos temporais somente para pessoas autorizadas.

Existem duas regras básicas para quem quer utilizar este poder com responsabilidade: uma é a permissão destes controladores, que a dupla de assaltantes não possui. Quando as duas semanas acabam e eles se preparam para voltar ao presente, percebem que o closet foi lacrado. Eles estão presos ali e não apenas presos na época. A outra regra é que, uma vez fora do seu próprio tempo, o viajante não pode deixar a propriedade, nem se quiser. Existe um campo de força letal cercando o grande quintal, antes das plantações que separam uma casa das outras, impedindo que alguns viajantes deixem rastros no tempo. Por conta de outro viajante clandestino, que conseguiu burlar as duas regras e contrariar as autoridades dominantes, é que os irmãos são impedidos de voltar para casa. Os controladores exigem que Joseph e Sidney permaneçam onde estão, para esperar e eliminar o viajante secreto, não importando quanto tempo isto possa levar.  Comida sempre haverá, porque os donos da casa e do tempo continuarão enchendo a geladeira. O problema real, além do tédio em uma situação potencialmente longa, é que Sidney tem uma filha pequena e a menina a espera em casa no final de apenas duas semanas, seguindo alguma desculpa esfarrapada para a ausência.  

Eu admito que tenho um amor por roteiros megalomaníacos inseridos em produções minimalistas. A história do filme é grandiosa e não são apenas as poucas locações e os poucos personagens, que indicam a discrição na hora de exibir essa grandiosidade. Talvez a característica mais marcante do filme, que irá fazer muita gente desistir dele ou re-assistí-lo, julgando-o pretensioso ou brilhante, é o desinteresse da direção em assegurar que o público acompanhe tudo com total entendimento, logo de cara. Um exemplo que me pegou em cheio e provavelmente irá pegar todo mundo neste filme, é a engenharia da comunicação e da troca imediata de informações, entre os irmãos e os controladores em três épocas diferentes na casa. Demorou um tempo para a minha cachola entender como aquilo funcionava e eu admito outra coisa… estava pronta para declarar falência ao filme, por achar a solução fantasiosa demais, até deixar o cinismo de lado e raciocinar com calma. Caso você ainda esteja confuso depois de ver o filme… Os irmãos deixam a mensagem no “presente”. Um controlador escuta no “futuro próximo” e envia a mensagem para outro controlador no “passado”, que deixa uma resposta para os irmãos “logo em seguida”. Um recurso inovador e imaginativo no filme.

Agora, em contraponto, a nossa possível lerdeza diante da suposta genialidade dos realizadores, não seria o único fator capaz de deixar o filme desarmônico para o público. Temos poucos flashbacks que não esclarecem quase nada. Faltam informações nos diálogos, principalmente entre os irmãos, que vivem fazendo referências a eventos que não são mostrados. “Podemos confiar na pessoa que forneceu a casa?… — Sim!… Mas ela não vai querer receber uma porcentagem do dinheiro guardado?… — Não, a pessoa disse que a nossa estadia gratuita, era uma contribuição para a nossa causa”… e outras conversas similares. Eventualmente descobrimos quem é este bom samaritano, através de três participações indecifráveis dele na história. A identidade dos controladores também é um enigma e se não for, se eles forem quem eu acho que são, nada na história faz sentido. Além de alguns twists intrigantes, o filme é cheio de pontas soltas, ou mistérios esperando para serem decifrados. Uma dica dos controladores é que estamos apenas acompanhando uma pequena porção de uma grande história, não a parte mais relevante dela. Estaríamos diante de algo similar a Resolution/The Endless de Benson e Moorhead? Devemos esperar uma continuação ou história de origem para As Coisas Serão Diferentes? O interessante é que, por mais sorrateiro que seja para uma obra sobre viagem no tempo, somente parecer mais profunda do que é na realidade, o filme vira de qualquer maneira um ótimo gerador de discussão e estudo.