Sim, o enredo é basicamente o mesmo em todos estes filmes, mas eu não posso negar que, após conferir o mais novo lançamento da saga sangrenta Premonição, a sensação era a de que, apesar das falhas, estamos diante de um grande fenômeno do cinema de terror. Que outra franquia provoca este misto de ansiedade e empolgação, quando o público sabe exatamente o que está prestes a acontecer, todas as vezes? Sabemos a ordem e muitas vezes o método, mas é impressionante e raro o quanto ainda nos animamos para conferir o desenrolar dos planos malignos da morte, para se vingar da audácia de gente abusada que não morre quando foi determinado. Já que são todos tão parecidos, vamos falar um pouquinho sobre cada um, porque trazer de volta ao cinema após tantos anos de sossego, o vilão mais inescapável da história, despertou o desejo de também rever os anteriores e com isso, um ranking informal de mortes foi se formando aqui… umas anotações mentais sobre falhas bobas foram se formando ali e pronto… temos um especial, uma celebração macabra!

A premissa é sempre brilhante, mas a execução competente depende de alguns fatores que vamos discutir a seguir. Após acompanhar um grupo de pessoas comuns participando de uma atividade considerada corriqueira, testemunhamos aterrorizados uma catástrofe digna do gênero, com múltiplas mortes filmadas com uma riqueza desconfortável de detalhes. Quando o personagem de maior destaque, encerra a sequência sendo o último a morrer, o filme retrocede alguns minutos no tempo, mostrando que todo o evento foi previsto pelo protagonista da história e que ele tem agora a chance de evitar a tragédia. Histérico e sem nada que sustente suas súplicas para que os futuros envolvidos desistam da atividade fatal, ele consegue somente salvar a si mesmo e a um pequeno grupo de pessoas, entre tapas e gritos. Minutos mais tarde, assistimos ao mesmo acidente junto com o grupo, mas do lado de fora dele. Nos próximos dias, os sobreviventes começam a morrer em acidentes individuais, em uma ordem que o restante não consegue ignorar e logo fica claro que ninguém escapou de absolutamente nada! Apenas prolongou o sofrimento. 

Com suas regras próprias e quase inquebráveis, os “Premonições” têm a fórmula do sucesso nas mãos, sem precisar trabalhar com um roteiro muito complexo. O que queremos é apenas ver sangue e eu não estou exagerando, porque há um sentimento genuíno de decepção quando a morte é rápida demais. Se o objetivo da cena é o choque, que ele seja pelo menos engraçado! Mesmo assim, apelando para as nossas emoções mais vergonhosas, ou exigindo muito pouco intelecto, algumas edições da franquia deixam muito a desejar. É bom colocar tudo no mesmo saco, ou na mesma postagem, para simplificar o que já é simplório, mas com uma justa etiqueta simbólica, que classifique e separe o que criou tendência… do que surfou na onda. O objetivo para mim é válido: ajustar as expectativas em relação a cada um e garantir o domínio da única coisa que importa com estes filmes, que é a diversão! Tem bastante spoilers neste texto, então considere-se amaldiçoado/avisado. 

PREMONIÇÃO 1 (2000)

A explosão trágica de uma aeronave, em uma viagem de rotina para Paris, inicia no universo do terror cinematográfico uma ideia inovadora e cheia de possibilidades, como veríamos posteriormente: A inserção de um Nostradamus moderno e imediato, prevendo o próprio destino e prevenindo a própria participação em uma tragédia, mas longe de ser considerado um personagem sortudo. O primeiro filme, com seu “imortalizado” (ai ai, Muito Molho…) vôo 180 e o seu mais célebre Mãe-Diná juvenil, foi um acontecimento épico e eu na época do lançamento, trabalhando como uma espécie de lanterninha em um cinema da minha cidade, tive o privilégio de ver a reação do público em diversas sessões e portanto, afirmo com segurança o status de clássico deste filme. Eu me lembro da confusão mental causada pela primeira grande sequência de mortes, quando ainda não sabíamos as regras do jogo e o alívio temporário ao ver o acidente de bem longe, quando não estava claro que quanto mais se engana a morte, mais “violenta” ela fica. A gente nem sabia se era seguro torcer pelas vítimas, por medo da situação ficar cada vez pior para elas e isto era inédito e sensacional.

O primeiro filme, único com texto completo neste blog, criou dois hábitos meio chatos, mas só um se manteve, que foi o da galera sobrevivente criando uma resistência absurda em relação às previsões posteriores do protagonista. O outro, que era o da morte agindo na surdina, como se não fosse uma entidade completamente natural; foi sabiamente descartado nas edições seguintes da franquia. De qualquer forma, estava concretizada a remoção das vítimas do terror de situações ou locais considerados arriscados, sem poupá-las do perigo. O público podia se identificar com os personagens e ninguém nem se incomodou em deixar o filme menos sobrenatural, para obter este feito. Todas estas histórias tem uma morte emblemática, que nos faz identificar melhor o filme, além da já dita primeira grande sequência. Premonição 1 não tem as mortes mais imaginativas, porém, este é o único filme no qual ainda acreditávamos que o “fim da maldição” era possível, portanto, a “Cena do Letreiro” segue sendo o melhor desfecho de todos.

PREMONIÇÃO 2 (2003)

Como foi mencionado anteriormente, todas estas produções tem sequências de acidentes bastante impressionantes e vívidas, mas na minha opinião, nada vai superar o que ninguém esperava do segundo filme, que é possuir a cena que ainda causa o maior impacto na imaginação do público. Eu tenho certeza de que as transportadoras do mundo inteiro, determinaram por conta própria que toras de madeira sendo levadas em seus caminhões, fossem cobertas por uma lona, ou algo do tipo, para não causar pânico nas estradas, depois que este filme foi lançado. A melhor “abertura de maldição” está no segundo filme, por ser infelizmente o incidente mais comum na vida real e por ser também o mais bem filmado. A gente vê tudo o que acontece com cada um dos envolvidos. Ninguém despenca para um abismo discretamente e é aqui também que as mortes posteriores ficam com cara de espetáculo. 

Premonição 2, achando que seria a única sequência do primeiro, cria sua própria tradição não sendo uma história solta, ou seja, ela se conecta com o primeiro filme como uma ótima surpresa. Nem sempre esta tradição é mantida, mas o que vale é a intenção. As visões sobre as próximas vítimas não tem nenhuma sutileza, como se o filme nos dissesse que daquele momento em diante, quem fez a primeira previsão (no caso uma jovem motorista) se transformou em uma vidente de verdade. Mesmo com a história sendo cheia de absurdos, ainda mais do que a anterior, eu prefiro o 2 ao 1, não só pelas cenas de morte mais criativas, mas também pelos esforços em surpreender o público, ao desviar bem cedo de alguns aspectos que se tornariam batidos na franquia. É neste único filme também que chegamos, mesmo de maneira mórbida, ao mais próximo possível de um final feliz.

PREMONIÇÃO 3 (2006)

Se o segundo filme enganou com uma próxima vítima falsa, que não pertencia ao acidente original, o terceiro fez o contrário, escondendo uma futura condenada das nossas vistas, para nos confundir sobre a ordem dos acontecimentos e despistar os sobreviventes, que estão tentando se unir contra o inevitável. Premonição 3, também conhecido como “Aquele da Montanha Russa”, além de exibir o acidente primário mais longo da série, no sentido de que a demora é intensificada pela certeza de que todas as mortes irão acontecer, já que não há salvação daquela situação; exibe a mais morte posterior mais cruel e uma das mais memoráveis da franquia… a das “Amigas no Salão de Bronzeamento”. Mary Elizabeth Winstead, que ainda era uma novata na época, é a médium da vez no filme que quebra alguns protocolos, como o uso de fotografias ao invés das típicas previsões, para tentar antever o tipo de acidente iminente e ideias que seriam usadas nos filmes seguintes, como transformar um sobrevivente em vilão e inserir a visão de mais uma tragédia de grandes proporções do meio para o final do filme. 

A tradição mantida das outras histórias, é a de um casal informal e temporário que percebe os sinais do universo e age de acordo, enquanto o restante dos personagens continua mais do que disposto a ajudar a Senhora Morte, com ações e decisões inconsequentes. Premonição 3 trabalha muito bem as cenas que antecipam as mortes demoradas e trabalha melhor ainda as mortes-surpresa, que conseguem o efeito chocante nos fazendo focar em personagens que não estão na rota predestinada, ou estão prestes a escapar dela. O filme tenta adicionar um pouco de substância a sua narrativa com algumas cenas dramáticas e eu confesso que o resultado fica meio chato, mas de uma forma geral ele é divertido e determinado a não deixar o público sentir que está vendo o mesmo filme de sempre.

PREMONIÇÃO 4 (2009)

Ainda bem que o título original de A Última Premonição, ficou obsoleto logo após a chegada do quinto filme, porque seria um pecado encerrar a série com este que é o mais fraco de todos. Com os eventos sendo desencadeados após a confusa e desinteressante tragédia inicial, conhecida como “O Acidente na Pista de Corrida”, Premonição 4 possui apenas um aspecto que eu considero valoroso o suficiente, para não desejar que o filme seja varrido para o canto subconsciente das nossas mentes, que é a sequência de “Mortes do Shopping”. Eu não consigo compreender como não usaram a explosão no cinema, que acaba reciclando bem uma ideia do anterior, para abrir a maldição em grande estilo… ou em um estilo mais envolvente . O filme ainda utilizou uma ferramenta que envelheceu mal, porque a febre das produções 3D passou e deixou para trás um monte de cenas em ângulos bizarros, que agora não fazem muito sentido. O que também exige que o público esqueça o bom senso pela duração do filme, são a maioria das fatalidades, com destaque para duas cenas completamente ridículas envolvendo água e acontecendo ao mesmo tempo em lugares diferentes. 

Os estúdios sempre contratam atores desconhecidos para interpretar os personagens, mantendo o clima de anonimidade que nos aproxima da experiência, além de economizar com cachês altos, em produções feitas só para arrancar nosso dinheiro e isto nunca foi um problema, mas estamos falando de profissionais no mínimo carismáticos nos papéis. A gente sempre adorou ver a eliminação… ou redenção de vítimas detestáveis nestes filmes, mas aqui são eles tantos e os personagens que são mais nobres, não possuem força ou profundidade para provocar empatia. Sem que o público se importe, tenha medo, ou torça para os personagens, só sobra o tédio, neste que faz os acidentes da Looney Tunes parecerem plausíveis e é o mais esquecível de todos os da franquia.

PREMONIÇÃO 5 (2011)

Que os deuses cinematográficos abençoem para sempre Premonição 5, ou “O da Ponte que Despenca”, por diversos motivos. O primeiro é não deixar a premonição morrer… não deixar a premonição acabar… O segundo é trazer o senso de humor para a produção, de uma maneira que nenhum outro havia feito. O terceiro foi inserir a fúnebre aparição de Bludworth na história e junto com ela, uma série de referências aos filmes anteriores, que vão além de uma menção superficial. Conexão com o acidente de avião que deu origem à série? Temos! Na forma de um twist maravilhoso, que fechou a franquia com o saldo positivo. Vilão entre os mocinhos e dramas pessoais? Temos! Escritos com mais cuidado do que os filmes 3 e 4, sendo que o amigo traidor tem uma motivação razoável e os problemas pessoais dos personagens estão bem integrados ao enredo, que fala de um grupo de colegas de trabalho, escapando por um triz da morte, a caminho de um retiro corporativo. 

O quinto filme tenta e faz diferente, como por exemplo, não colocar o vidente no fim da fila da morte principal. O resultado final é o mesmo, mas a jornada compensa. Este é para mim, além da ótima sequência inteira no início, o que tem o melhor conjunto de mortes secundárias, como a do “Laser no Olho”, o das “Agulhas no Spa” e o carro chefe conhecido como a “Queda da Ginasta”, que alcança a proeza de ser extremamente chocante, depois de muita enrolação na cena e diversos filmes anteriores com mortes de extrema violência. Eu gostei de todos os personagens, até dos desagradáveis, que dentro da dinâmica de escritório são hilários primeiro e escrotos depois. Eu gostaria de dar uma destaque especial para o ator Miles Fisher (conhecido imitador de Tom Cruise), em uma interpretação assumidamente “canastra”. O filme corrige o problema de ritmo descompassado, entre os diversos problemas, de Premonição 4 e ainda tem a cara de pau de fingir que no final tudo pode ficar bem, com sua historinha de amor super fofa e sua atenção perigosa aos planos dos personagens. O pior é que a gente ainda embarca na viagem, igual ao coitado do final do filme. 

PREMONIÇÃO 6 (2025)

Olha só que diferente: Não são as vítimas da morte-abre-alas, que acompanhamos durante a história… Os marcados para morrer são membros da mesma família, ao invés de amigos, colegas de trabalho, ou até estranhos, então qualquer drama gerado aqui tem peso extra… Ganhamos a história de origem que a gente nem sabia que tinha direito… e acidentes fatais são evitados sem interferência externa… e o melhor: Vários personagens na família podem descansar tranquilos, se não considerarmos, é claro, o lance do luto e coisa e tal. Este representa o retorno da franquia e o adeus definitivo de Tony Todd. É com este filme que vemos uma dualidade inédita e interessante, na questão da aceitação de uma maldição rondando os personagens, porque a vidente atual é um membro confiável da família, porém a vidente original da história ficou tão paranóica e nociva para o emocional dos filhos e netos, que dificulta a união de todos em torno de um objetivo comum, que é o crescei e multiplicai-vos. 

Outras edições de Premonição usaram a altura como instrumento de eliminação antes, mas o sexto filme, que será conhecido no futuro como aquele sobre “A Tragédia no Restaurante da Torre”, é o mais eficaz em causar no público, todos os sintomas que só seriam típicos em quem está realmente em um lugar muito alto. Que sequência inicial! As subsequentes são muito bem elaboradas, até mesmo quando falham em matar um personagem e dá para perceber que não bastava apenas reativar a ideia da franquia, era preciso um esforço considerável em diversos departamentos que fazem estes filmes funcionarem, para impulsionar a produção de uma segunda leva da franquia. A coroa em Premonição 6, vai para a “Morte Absurda da Lata de Lixo” e o destaque entre os atores, vai para Richard Harmon, que só não rouba a cena do famoso funcionário do necrotério, mas de resto, ninguém brilha mais do que o sarcástico “Erik”… salvo por natureza, mas condenado pela personalidade.