O cenário é o Vietnã durante a guerra, em 1972. A base ocupada por soldados sul-coreanos recebe uma transmissão assustadora, supostamente de um de seus pelotões que havia desaparecido 6 meses antes, durante uma missão. A voz fúnebre que surge no rádio da corporação, entre o barulho de tiros e bombas, traz uma mensagem alarmante: “Base de comando, responda… Estamos morrendo neste inferno”. O único soldado daquele pelotão que havia conseguido retornar, jura que ele é o único sobrevivente e a tendência é crer no homem que ainda se encontra no hospital da base, pela gravidade dos ferimentos. Só que as mensagens continuam chegando. Sim, no plural mesmo, porque são muitos contatos, precários, mas concretos. Será que ninguém mais escapou? É claro que algo precisa ser feito urgentemente para descobrir o que aconteceu ou ainda está acontecendo, com este grupo de soldados abandonados, que não consegue regressar da missão sem ajuda após tanto tempo, em uma área que nem se encontrava na zona de combate. 

Fantasmas de Guerra é uma imaginativa, intrigante e por vezes bem-humorada viagem ao inescapável inferno mental… ou kármico, assim como também é uma história de terror redundante, confusa e um pouco cansativa, que se recusa a explorar da maneira mais assustadora os fantasmas que tanto promete. Se o filme exige alguma coisa, é que o público seja bem novo, ou que este seja um de nossos primeiros filmes de terror, para que o medo seja mais eficiente. Eu digo “se exige alguma coisa”, porque se trata de um roteiro com uma premissa empolgante, mas sua execução é em cima de uma sensação falsa de grande mistério. É algo descomplicado que se enxerga como complexo, fazendo com que todas as suas diversas surpresas, sirvam apenas para entreter com informações não relevantes para a história. O que realmente interessa fica entre duas abordagens distintas, porém igualmente decepcionantes: já sacamos de cara o que está acontecendo, ou o filme nem aborda o mistério para melhores esclarecimentos. Não tem nada de errado em querer ser um fast food filosófico, ainda mais no terror, mas eu sinto que pelo menos uma dessas aspirações, ser um terror profundo e ser rápido a respeito, falhou… e acabou contaminando a outra. 

Por livre e espontânea pressão, assim como a promessa de regalias futuras, uma equipe de soldados que estava prestes a ser dispensada, concorda com uma última missão antes de voltar para casa, que é a de entrar na até então pacífica Zona-R e resgatar os sobreviventes que ainda pedem socorro. Não é somente para encher linguiça, que recebemos uma exposição excessiva da vida de diversos destes soldados, 10 ao todo, caminhando pela mata antes que qualquer perigo se apresente. É preciso que fique claro quem merece e quem não merece a maldição que se manifestará na floresta, ou quem são os que possuem “sangue nas mãos” naquela guerra. É uma tentativa clara de preparar o público, mas que também acaba não sendo levada em consideração no grande esquema das mortes iminentes. O grupo encontra uma lápide e nela, grande parte do enredo disponível para quem souber chinês e olha só que maravilha… Um dos soldados sabe a língua e explica para o público! Não é para ser sutil. O enigma fica por conta de um edifício, bem mais difícil de não notar em uma floresta, com ares de hotel abandonado, que eles transformam em uma base temporária. É de lá que os soldados sairão todos os dias, nas mais variadas direções em busca dos sumidos. 

Não é exatamente um filme para ser ignorado, mas eu não o veria duas vezes. Tentando se destacar de outros filmes com ideias semelhantes, Fantasmas consegue acelerar batimentos cardíacos, provocar gargalhadas e gerar alguns momentos genuínos de arrepio e apreensão no público. O ritmo frenético das primeiras partes do filme, reflete a urgência da missão e passa a impressão de que não há tempo a perder. Tudo é digno da nossa atenção, até quando não há nada aparentemente importante acontecendo. Então chegamos no prédio, que pertence aos americanos, aos franceses, a quem estiver nele, vivo ou morto e a história perde força e perde a coerência. Os soldados são continuamente contactados pelos superiores, surpreendidos por achados desconcertantes (incluindo o encontro com o motivo da missão), abordados por soldados de outros grupos… proposital ou casualmente, além de serem constantemente observados e atraídos para fora do edifício, por seres que se aproximam… e não fazem nada. Em meio a tanta coisa acontecendo, a narrativa não avança e é como se, vagarosamente, pouco fosse digno de atenção. Ainda estamos intrigados e bombardeados com informações, mas com a paciência seriamente testada. 

Em conjunto, separados em grupos ou individualmente, os rapazes saem todos os dias do hotel-base com um objetivo simples, que eles não conseguem cumprir. Se não se perdem no caminho, ou se desviam dele por teimosia, somem das vistas uns dos outros o tempo inteiro. Ninguém têm a retaguarda de ninguém, nem mesmo para esperar o companheiro na hora do xixi. É como se aquele solo, sagrado para os vietnamitas, bagunçasse os sentidos da galera. Pode ser que o treinamento deles, esteja atrelado ao quanto o roteiro precisa que eles falhem, para garantir momentos esquisitos no filme, mesmo que eles não sejam fatais. É difícil saber! O que eu sei mesmo é que quando vi o sangue escorrendo de alguns objetos, próximo à conclusão da história, que resolveu arrematar o que estava pendente e ainda não explicar o que precisava, foi impossível não lembrar de quando este tipo de artifício do terror antigo, teve  um impacto real pela última vez, na vida de qualquer fã de terror. Bem intencionado, mas um desperdício de tanto esforço.