Baseado em uma história de Stephen King, O Macaco foi dirigido por Osgood Perkins, que parece mal ter tirado folga após Longlegs (2024) e já está trocando a seriedade, as mensagens subliminares e as aspirações artísticas, pelo absurdo, o exagero e o humor avacalhado. O mais curioso nesta transição profissional, que segue o caminho inverso de muitos artistas, é que ela é usada para abordar comicamente dois elefantes na sala de cinema que envolvem o diretor: nepotismo e mortes trágicas. Osgood é filho do ator Anthony Perkins (o ilustre vilão Norman Bates) e o diretor perdeu tanto o pai quanto a mãe de maneiras nada convencionais. Eu sugiro que você faça uma breve pesquisa sobre pelo menos a morte da mãe dele, para não perder a referência bizarra em uma das diversas mortes do filme. Paternidade, é quase um tema concorrente ao “brinquedo amaldiçoado que mata quem quer” na história, de tanto que é mencionado, até com personagens secundários. A direção de arte propositalmente antiquada, evidencia a sombra dos clássicos de Hollywood por cima da produção e Perkins se mostra confortável debaixo dela. Ele é um herdeiro e pretende fazer bom uso desta condição. 

O filme começa com um piloto desesperado, com o uniforme sujo de um sangue que não o pertence, tentando se livrar do boneco em uma loja de penhores. Ainda “acionado”, o objeto maldito, cujas regras de funcionamento não estão claras para o público naquele momento, provoca uma morte chocante no local e nunca mais vemos o piloto novamente. Anos mais tarde, os filhos adolescentes dele encontram o macaco entre um monte de quinquilharias que o pai trouxe das viagens. Sem noção dos riscos, os meninos resolvem testar o brinquedo, provocando diversos estragos irreparáveis. Hal e Bill são gêmeos que não se suportam, no entanto, entendendo o poder destrutivo daquele artefato, eles decidem conter a ameaça juntos do melhor modo que conseguem, se livrando do brinquedo, mas não da sensação de que algum dia o objeto possa retornar com a mesma sede de sangue. Assim, ambos crescem sem a presença, porém, totalmente influenciados pelo macaco com consequências distintas para Hal, o tímido e Bill, o bully, seguindo seus próprios caminhos sem vínculo fraternal. Décadas mais tarde, a cidade natal dos irmãos é atingida por uma série de tragédias, exigindo compromisso e responsabilidade da dupla de sobreviventes. 

O conto de King é curto. O filme também é e a impressão é a de um roteiro feito originalmente para o cinema, ao invés de uma adaptação de algo pequeno para algo bem maior, feita sem o cuidado devido e com muita encheção de linguiça. Após algumas mudanças no material original, o enredo continua simples e o ritmo se mantém sólido e envolvente. Não é nada elaborado, mas Perkins extrai o suficiente para fazer uma longa divertido. A notícia boa é que não recebemos uma chatíssima e desnecessária historia de origem, na qual veríamos o antigo espírito de um serial killer se vincular ao objeto. A notícia neutra, é que não temos explicação para a existência da entidade, ou as motivações para tanta violência. Um personagem se refere ao macaco por diabo, mas o filme segue uma linha menos parcial, como se o brinquedo fosse a própria morte, simplesmente trabalhando. Na verdade, é como se ele fosse um funcionário de um grande departamento de remoção de almas, encarregado das extrações mais excêntricas. São as mortes numerosas, repentinas e incomuns afinal, o elemento central da narrativa, rodeado por uma história sem grandes surpresas sobre rivalidade e laços familiares partidos. 

O filme quer falar de eventos passados, do que significa ser pai de alguém e ele também quer falar de mortes ridículas, da forma mais inapropriada possível. A produção quer fazer rir da desgraça alheia, como quem promove uma grandiosa terapia em grupo para abordar certos traumas. É uma morte violenta e horrenda, diz O Macaco, mas alguém precisa passar por ela, para aumentar o repertório de eventos curiosos da humanidade. C’est la vie! … Porém… o intuito do espírito esportivo ao lidar com assuntos monstruosos, vai sendo modificado com o aumento da contagem de corpos. À princípio, sim, o humor nos pega em cheio, mas também incomoda muito a falta de respeito de diversos personagens, a medida em que mais e mais gente inocente sofre acidentes, que deixariam qualquer familiar ou testemunha traumatizados. A partir de um certo momento, é impossível não desejar um pouco mais de decoro nas palavras, sobre gente que nem conhecemos na história. A perturbação gerada pelo filme, vem de tudo isso e de toda a criatividade usada no derramamento de sangue. A banalização da necessidade frequente de caixões fechados, é uma grande fonte de agonia e surpreendentemente, isto acontece em um slasher sobre um macaco musical amaldiçoado! 

Não é um filme de medo, é um filme de sustos e até estes, geralmente, não acontecem sem que os antecipemos. Terapêutico para quem o comanda… recreativo para quem o assiste. Feito para o adolescente em todos nós… mas esperançoso de um entendimento mais adulto, com truques que podem ou não dar certo. Recomendado para sessões com amigos, acompanhadas de algum tipo de jogo sobre o número de mortos. Eu só não faria um drinking game, porque a garantia é a de uma tragédia na plateia.