Já que estamos prestes a receber um presente maravilhoso: Extermínio 3, que todo mundo pediu por anos, mas ninguém tinha mais esperança de que aconteceria, nada mais apropriado do que começar 2025 (eu disse que voltaria em janeiro, só não disse o dia!) dando uma olhada no filme número dois, da saga do famoso apocalipse zumbi britânico. Eu coloco estas histórias na categoria dos mortos-vivos, mas estou ciente de que a ameaça ainda respira, estando apenas infectada com uma doença de verdade, ou uma variante exagerada dela, para ser adicionada à curta lista de filmes de terror que poderiam acontecer. Os Extermínios também são um exemplo da seriedade artística dos anglo-saxões, que não cedem ao lado mais fantasioso do terror de ação, se ele não estiver inserido em uma comédia, como é o caso de Todo Mundo Quase Morto (2004) e Orgulho, Preconceito e Zumbis (2016). Extermínio 1 não teria existido, se não fosse para se destacar das produções norte-americanas, então ele veio para fazer um estrondo e fez, como uma obra-prima dos filmes sobre epidemia e sim, dos terrores sobre zumbis, mesmo que as criaturas sejam seres humanos normais que adoeceram. A influência foi grande nos filmes posteriores, colocando os mortos que andam para correr, literalmente, portanto uma continuação para a história era mais do que bem-vinda, ainda que não fosse tão inovadora ou barulhenta. 

A motivação principal de Extermínio 2, foi nos mostrar como se desenrolaram aqueles primeiros dias da infecção, sem que o roteiro precisasse voltar no tempo. É claro que, por se tratar do retorno ao lar dos nativos da Grã-Bretanha que estavam de férias… assim que a poeira baixou e a contaminação estava sob controle… ainda assistimos ao caos em sua forma reduzida, já que estamos falando de poucos milhares de cidadãos e não de muitos milhões. De qualquer forma, o que este filme faz, mesmo não sendo dirigido por Danny Boyle, mas estrelando mais um ator apresentado para o mundo por ele: Robert Carlyle, é produzir sequências incríveis de mini-pandemônios, com todo o horror que o protagonista do primeiro filme, interpretado por alguém que agora está famosíssimo e oscarizado, só conheceu através das experiências de terceiros, por ter passado os iniciais vinte e oito dias de epidemia em coma. O atrasado perdeu a festa, mas o protagonista do segundo filme providencia outra, vinte e oito semanas depois. Sorte nossa, porque como veteranos de crises sanitárias mundiais, sabemos não apenas que elas não podem ser contidas, como também que, ouvir sobre o quão horrenda foi a contaminação e vê-la em primeira mão, são experiências completamente diferentes. 

Seis meses se passaram desde que o contágio acabou e os militares estrangeiros tomam conta do país. É deles a tarefa de limpeza, seja com jatos de água ou piras que reduzem os corpos ao pó, assim como todo o trabalho de segurança e reintegração da população. Na Londres ocupada, porém tão silenciosa quanto uma cidade do interior, Don (Carlyle) aguarda a chegada dos filhos que estavam na Espanha. Os que tiveram a sorte de estar fora do país durante o massacre, precisaram aguardar todo este tempo e agora retornam em um clima que mistura liberdade com melancolia. Os militares converteram uma área luxuosa e convidativa da cidade em zona de quarentena, mas as crianças de Don sentem falta da antiga vizinhança e se aventuram uma manhã em busca de fotos e outros pertences. Na velha casa, a mãe que eles davam como morta é encontrada viva e traumatizada, o que é uma surpresa também para o público, que nas primeiras cenas do filme, viu o que Don precisou fazer e quem ele precisou abandonar para sobreviver. A mulher é recolhida e tratada, mas a dúvida permanece: Como ela conseguiu escapar? Alice não escapou, ela é imune à manifestação da doença, mas pode transmiti-la… para o marido, que aliviado e cheio de culpa beija a mulher, inadvertidamente.

Uma característica que chamou bastante a nossa atenção no primeiro filme, além da velocidade apavorante dos infectados, foi um feito que o segundo filme reproduziu com ainda mais ousadia: esvaziar uma metrópole daquela sem o uso de recursos digitais. Perdendo o impacto da novidade para o original, no qual vimos o então novato Cillian Murphy sozinho em planos bem abertos, caminhando por ruas geralmente movimentadas, esta continuação compensa ampliando a dificuldade da execução de cenas semelhantes, com mais cenários urbanos que estão normalmente tomados de gente. Outro aspecto que passa por uma escalada, é o teor da violência nas cenas de ataque. O fato de que os contaminados não são monstros sobrenaturais, mas sim seres humanos sofrendo um processo químico, que estimula a raiva já existente e remove qualquer inibição, já é assustador o suficiente, mas este filme não quis deixar muito para a imaginação. Qualquer confronto tem o objetivo de machucar muito até matar, porque é isso o que os vilões querem. A transmissão do vírus é uma consequência. Isso sem mencionar o contra-ataque dos militares, que vai do polêmico ao sanguinolento, mas sempre obedecendo a um protocolo plausível de contenção. 

Não é um filme livre de problemas, como por exemplo a inexplicável, ou pelo menos desnecessária edição de som que estoura a trilha o tempo inteiro propositalmente. Assim como a edição de imagens frenética que disfarça, ou tenta disfarçar as deficiências técnicas. A escolha de seguir reduzindo o grupo de sobreviventes de maneira forçada, é bem frustrante, assim como algo improvável em um filme destes, que é a existência de um vilão principal, convertido de paciente-zero para presença quase fantasmagórica, que persegue a própria família como se tivesse o auxílio de um GPS e dando um ar mais faz-de-conta à história, do que Boyle teria permitido. De qualquer forma, são escolhas do diretor Juan Carlos Fresnadillo, que precisamos aceitar, porque sem um segundo, não há uma franquia e não há um terceiro. O filme possui uma boa narrativa, atuações competentes, uma ótima produção e seriedade suficiente. Talvez não para o britânicos, mas sim para o resto do mundo.