É impressionante o quanto ainda dá medo, porque é tudo tão exagerado! Da orquestração dos assassinatos à decoração dos sets, sendo que a ostentação tem o objetivo de tornar a produção o mais brega possível, ao invés de provar que a equipe conta com cada vez mais recursos e talento atrás das câmeras. As imagens continuam inexplicavelmente granuladas. As atuações permanecem sofríveis e o estilo visual de Damien Leone, com a fotografia de suspense de baixo orçamento dos anos 80 e os enquadramentos de novela ( de uma emissora que não lidera a audiência no país), garante que a atmosfera nunca cruze a linha que separa as imagens amadoras, das profissionais. O mesmo vale para os efeitos práticos, tão propositalmente falsos, que o sangue na tela faz uma homenagem acidental ao nome deste blog. Um vilão que curte tanto a matança quanto ele curte ser um palhaço e ainda assim ele funciona, tudo funciona! Com todo o deboche e a auto-sabotagem (também falsa), já estamos no terceiro filme de uma franquia que é uma surpresa por existir!

Como já era previsto, o filme começa com um massacre e desta vez, ele elimina todos os membros de uma família, inclusive as crianças. O por quê daquela casa ter sido premiada, ou dos moradores terem sido o alvo, não sabemos. Apesar de que, basta que Art, o palhaço, cisme com alguém ou seja invocado através de medo e curiosidade, que a visita será uma certeza. Se ainda não estava claro que o vilão não era um maníaco qualquer, o terceiro filme esclarece que a presença dele é completamente sobrenatural. É claro que, a confusão vinha do fato que ele se comporta como uma entidade demoníaca, porém, com hábitos humanos, como o cuidado com a limpeza do uniforme e a necessidade de possuir um cantinho do artesanato particular, que ele obviamente utiliza para incrementar alguns instrumentos de matança. A verdadeira questão é, o que Art está fazendo fora do próprio feriado? A árvore está montada, as luzes coloridas estão por toda a parte e quem perdeu o Halloween, vai ter que sossegar até o ano seguinte, porque o momento agora é de confraternização, dos presentes e da inocência. Só que o palhaço que acaba com todo mundo na casa, mas não deixa louça na pia de jeito nenhum, não quer nem saber. Trabalhar fora da época dele, é só mais uma transgressão no currículo daquela personalidade caótica, que destrói o mundo inteiro sem nunca dizer uma palavra. 

Por mais cafona que o diretor queira manter a essência destes filmes, é bom saber que há uma preocupação com continuidade e com a ideia de conexão entre as três histórias, ao contrário de colocar o vilão em situações aleatórias de violência. Bom, é verdade que estas situações acontecem aos montes, porque Art não se segura diante de alguém que lhe chame a atenção, mas o filme que é um festival de tripas e profanidade, não segue sem uma narrativa decente. Os jovens irmãos Sienna e Jonathan estão de volta, depois de quase não escaparem do segundo filme. Sob os cuidados de novos parentes, eles enfrentam o trauma e a infâmia com um apoio razoável. Cinco anos se passaram desde que eles foram os protagonistas do ataque brutal, que matou a mãe deles e outras pessoas, e enquanto acompanhamos a readaptação à vida normal, que não acontece sem sequelas terríveis, também vemos que o assassino dado como morto, continua na ativa e tão animado como sempre. O monstro não apenas mata sem motivo, ele também parece caminhar sem rumo, então olhando de fora, a impressão é que ele não tem planos concretos, mas os irmãos que viveram dentro da maldição e respeitam o que isto representa, sabem que ele está se aproximando. Existe um porquê para a perseguição, mas existe do outro lado uma preparação e estudo para o contra-ataque. Pela primeira vez, recebemos um vislumbre de uma explicação para a existência do vilão.  

Terrifier não é o que é, sem uma cota obrigatória de absurdos. Além do grotesco de sempre, o filme possui algumas cenas que nos impedem de recomendá-lo aos mais sensíveis. Não que eu chamasse os entes queridos para ver os dois primeiros, mas sem sombra de dúvida, houve um esforço para superar expectativas com esta continuação. Se tem uma coisa que a estrela da história não faz questão, é ser fiel a apenas um tipo específico de arma, portanto, em algumas ocasiões a praticidade de um revolver é tudo o que ele precisa. Outras vezes, como acontece em uma controversa cena em um shopping, envolvendo uma longa fila para fotos com o Papai Noel, um artefato explosivo faz o truque. Em outra sequência com um casal no chuveiro, na qual vilões sobrenaturais da vertente punitiva, teriam cometido o crime e ido para casa descansar, Art se empolga bem mais do que é cinematograficamente aceitável. É bem no começo do filme, no entanto, quando o vilão é despertado de um longo sono, com a faca e a vítima na mão, que a auxiliar dele (a final girl do primeiro filme, que agora se tornou uma aliada) perde completamente a linha e se torna indefensável. Esta cena é supostamente a responsável por diversas saídas antecipadas das sessões nos cinemas. Conhecendo o marketing do terror, eu tenho as minhas reservas, mas tendo visto a cena… eu não me surpreenderia. Estes filmes nunca tiveram a ambição de serem amados pelas massas, mas gente do céu! Deixem um pouco de crueldade para outros terrores!

David Howard Thorton continua sendo a melhor coisa de todos estes filmes. Com suas caras e bocas, debaixo daquela maquiagem já consagrada, ele se transforma diante dos nossos olhos, da criatura mais intimidadora na mais engraçada de um ambiente, sem que as duas personalidades distintas se atrapalhem. Ele é tão expressivo e precisa ser, para que o personagem não apele para mímicas com frequência. Quase como um desenho animado infernal que ganhou vida, dá para sentir o quanto ele está se divertindo no papel. Ver o ator com um personagem tão marcante, me inspirou a buscar uma entrevista, ou qualquer coisa sem a caracterização do palhaço assassino, para ver o quanto dele mesmo está em Art. Nada, é a resposta! O cara é um doce e sem medo nenhum de ficar conhecido apenas como “o vilão de Terrifier”. Se divertindo tanto quanto, ou mais do que Thorton está Leone e ele quer que a alegria se espalhe para o público, só que os termos e condições para o entretenimento, seguem um senso de humor macabro e o contrato que assinamos ao ver o filme, é inegociável. Eu não diria no entanto, que os gostos particulares do diretor o isolam, ainda mais quando fãs famosos participam desta produção. Tudo é uma questão de encontrar o próprio nicho e não decepcioná-lo. Até trilha sonora natalina, criada especificamente para Terrifier, nós escutamos aqui. Se isto não é amor, eu não quero amar!