A essa altura do campeonato, você já conhece o procedimento, só que o procedimento sofreu algumas alterações desde o lançamento anterior. Parece que o tema “ano de fabricação” dos V/H/S – 99/94/85, já deu o que tinha que dar, então a linha a ser seguida nesta nova produção é a da invasão extraterrestre, tanto nos curtas que compõem cada filme da franquia, quanto na história que serve como elo de ligação entre cada um deles. Outra mudança é que mesmo mantendo o formato found footage, tão característico desta série, a história que conecta um curta ao outro, “Abduction/Adduction” (dirigido por Jay Cheel) recebeu um tratamento mais profissional, como se fosse um documentário, com imagens de arquivo e entrevistas com historiadores e especialistas, crentes e descrentes da cultura ufológica, contando até com a participação especial dos críticos de efeitos especiais do canal Corridor Crew (que eu sigo) do Youtube, para auxiliar na análise das fitas que supostamente capturaram encontros com alienígenas, descobertas em uma mansão muito famosa no Canadá, depois que o último herdeiro da propriedade sumiu sem deixar rastros. Os demais curtas desta edição de V/H/S estão na seguinte ordem:

– “Stork” (Kevin Stewart)

Uma compilação de imagens das câmeras corporais de diversos policiais, em uma missão secreta no ano de 2023, forma o conteúdo desta primeira história, mostrando a tentativa de apreensão de um suspeito, junto com o resgate da possível vítima mais recente dele, seguindo o desenrolar de uma investigação sobre o desaparecimento de diversas crianças na região. A operação tem todo o aval para ser legítima, mas é conduzida de forma clandestina. Não compreendemos a princípio, porque a equipe registra tudo o que está acontecendo, mas não solicita apoio durante a ocorrência, assim como é muito estranho que ninguém se intimida, quando o casarão-alvo da denúncia começa a ganhar componentes de filmes de terror, como choro constante de bebês que ninguém encontra e um número assustador de adultos protegendo o local, agindo sob o que parece ser um encanto sobrenatural, usado para fazer pessoas comuns trabalharem para o inimigo. Stork é um curta que exige que você faça uma busca no Google pela tradução do título e é um bom começo para V/H/S/ Beyond, com um clima de pânico que imita o dos infectados no prédio de REC (2007). Só que aqui os contaminados ainda são agraciados com uma tecnologia de outro mundo, que os torna mais difíceis de combater.

– “Dream Girl” (Virat Pal)

Dois paparazzis aspirantes a cineastas, seguem a contragosto a mais nova diva do cinema indiano, neste segmento que não apenas rompe temporariamente com o estilo câmera na mão (ou no corpo) destes filmes, como também arrisca enfiar um videoclipe no meio da história, como se nem esta já estabelecida franquia de terror, pudesse resistir ao charme dançante de Bollywood. Dream Girl, o mais absurdo dos curtas (e a disputa é acirrada), também insere outro componente da cultura de origem do diretor… os deuses e deusas, como entidades que caminham entre humanos e que ganham aqui características mais ligadas à tecnologia, creio eu, vinda do espaço. Na história, um simples elogio, feito com a melhor das intenções, a uma estrela que não havia se dado conta do quanto é poderosa, desperta uma sede infinita por adoração e desencadeia um banho de sangue em um set de filmagens. Não é a minha história favorita do conjunto, mas as cenas de ataque da divindade/ciborgue, feitas com pouca luz e muito suspense, fazem o curta valer a pena. 

– “Live and Let Dive” (Justin Martinez)

O terceiro e melhor segmento, é o mais abertamente alienígena de todos, no sentido das referências clássicas, como naves espaciais em forma de disco e criaturas com o design dos anos 50, à princípio, pois uma vez que o contato entre as espécies é estabelecido e os aliens ganham mais exposição, em uma sequência sem cortes de tirar o fôlego, descobrimos características modernas e letais nos corpos das criaturas e abandonamos tudo o que fomos condicionados a esperar delas, através de filmes de ficção científica. Neste curta brutal, um grupo de amigos comemora o aniversário de um deles com um salto de paraquedas. O início é bem arrastado, até que o piloto da aeronave avista o ovni e a carnificina não pára mais. No meio de um belíssimo pomar à luz do dia, a busca por uma saída daquela situação horrorosa, fica cada vez mais inviável para o cinegrafista acidental e para o público, que o acompanha nas imagens e na histeria, enquanto a câmera frenética (mas nunca negligente) mostra vítimas sendo dilaceradas por um predador que nem se preocupa em dar explicações. Sangue, correria, gritaria e uma infinidade de laranjas esperando para serem colhidas.

– “Fur Babies” (Justin e Christian Long)

Toda edição de V/H/S/ possui aquele curta mais fraco e dependendo da edição, temos muito mais do que apenas uma decepção. Fur Babies, com sua história que consegue ser a mais inverossímil em um filme de e.t.s, é o culpado da vez. Nele, um grupo de ativistas rastreia uma cuidadora de animais que eles acreditam ser abusiva. Ao longo do segmento, cuja premissa é a de um hotel para pet onde a Ilha do Dr. Moreau ganha vida às avessas, descobrimos que a denúncia vem do fato que diversos donos de bichinhos desapareceram depois de contratar os serviços da mulher. Eu não consigo imaginar um bom motivo para as filmagens das atividades ilegais, de nenhum dos lados do embate, como vemos neste episódio, mas aqui estamos nós! Assim como fica difícil comprar a ideia de nenhuma denúncia sendo feita diretamente para a polícia, quando existe a possibilidade de sequestros múltiplos acontecendo no local. O curta é uma bola fora bem bobinha do ator Justin Long, que o dirige ao lado do irmão Christian, inserindo um bando de absurdos na história e deixando de fora os alienígenas do tema, como se não tivessem lido o memorando. 

– “Stowaway” (Kate Siegel)

Uma documentarista solitária, coleta depoimentos de supostas testemunhas de encontros com extraterrestres, em uma região rural dos Estados Unidos, na qual diversas dessas ocorrências vivem sendo reportadas. Como nenhum relato é negativo e a população parece confortável com os fenômenos, a jovem segue sem medo pelo deserto, sozinha, para tentar um contato e transformar a própria vida. Stowaway, escrito pelo já ilustre Mike Flanagan e dirigido pela esposa dele, é o curta no qual a invasão tem clima de visita acadêmica por parte dos alienígenas, sem violência, mas sem abandonar o terror, que não precisa de muita fanfarra para ser provocado. Basta a proximidade de criaturas inteligentes não-humanas, capturadas por uma câmera profissional com recursos úteis para a história, que o medo chega sem muito esforço. É o segmento mais interessante do conjunto e mesmo com a atmosfera esperançosa que toma conta dele, o desfecho é de uma crueldade imprevista, tão perfeita, que só me resta dar os parabéns ao casal. Em seguida, acompanhamos a finalização da primeira história, que servia de pausa entre os curtas e estava fazendo um bom trabalho de cozimento em banho-maria, para que a gente pensasse que se tratava de um documentário normal, descompromissado com o gênero, até que o conteúdo das fitas, feitas pelo herdeiro desaparecido, é finalmente mostrado ao público. Uma distração, um truque, para terminar o filme com algo terrível que nem estávamos mais esperando. Assustador e totalmente apropriado para a franquia.