Eu tive que ver um daqueles vídeos de recapitulação de filmes no youtube, para relembrar os pontos mais importantes, porque Sorria 2 começa exatamente seis dias após a morte da protagonista do primeiro filme, nos deixando com um coadjuvante, com quem não havíamos criado um grande vínculo e que agora tem a obrigação de dar continuidade no plano, de livrar o mundo do demônio que aparece com uma simpatia sobrenatural. Um aspecto sempre memorável, no entanto, no que agora com uma continuação se torna um universo cinematográfico, é que nenhum personagem de Sorria é feito para durar. Em pouco tempo ele deixa o filme e abre espaço para uma nova protagonista, que parece instintivamente saber que seus dias estão contados. Estamos falando de Skye Riley, uma diva da música pop retornando aos palcos após um acidente terrível, que exigiu uma limpeza profunda de corpo e alma, sem que ela precisasse abandonar a antipatia típica, de quem ganhou muito dinheiro muito rápido e muito cedo na vida. Só que a jovem não precisa fingir ser fofa para criar laços com o público, porque a nossa torcida por ela é imediata. A angústia que se inicia e não pára nunca mais, assim que ela é deixada sozinha por dois minutos em uma sala e sabemos que o demônio está no cômodo ao lado, é um fato no filme. Vai embora, minha filha! Você é uma estrela, não tem que ter paciência para esperar nada e é maravilhosa demais para passar pelo que está por vir. Ninguém merece o que está por vir.
A impecável sequência da contaminação, que insere Skye na maldição, chama a atenção pela falta de gritos e reforça o quanto esta é uma ótima ideia para filmes de terror. O ato final de quem passa o vírus adiante, envolve uma violência absurda, mas a testemunha, que sempre chega na hora que tem que chegar, como se fosse atraída ao local sem perceber, só consegue observar em estado de choque silencioso, a carnificina que destruiu um rosto que, também sem falar nada, mostrava os dentes exageradamente e inexplicavelmente até então. Quando o corpo não aguenta mais os golpes autoinfligidos, caindo diante dos olhos da protagonista desta história, eles exibem uma expressão de tristeza egoísta, mas legítima: o que ela foi forçada a ver, com todos os elementos indecifráveis envolvidos, fará parte dela para sempre. Se fosse apenas o trauma e eu digo apenas, sabendo que este é o segundo grande trauma da jovem, ou a possibilidade de um escândalo com o nome dela, já que se tratava do fornecedor particular de substâncias ilícitas, Skye estaria no lucro. Logo as alucinações macabras irão começar para ela também e a tendência é que as reações fiquem mais barulhentas. Prestes a iniciar uma turnê e com câmeras e fãs sempre por perto, a direção desta narrativa se encaminha para uma maldição um pouco pior do que a do primeiro filme, ou mais humilhante por cair sobre uma pessoa pública. Será que esta marcada para morrer conseguirá um pouco de privacidade, como a outra jovem teve, para pelo menos buscar explicações sobre os sintomas e dar um pouco de trabalho para o vilão?

Quando propostas inéditas no terror, surpreendem pela criatividade e pelo cuidado na execução, gerando uma sequência sem o elenco original, pela razão que for, é quase certo que o projeto é financeiro em essência, com atores ainda menos conhecidos e pouquíssimos méritos artísticos, mas é com muita satisfação que eu vejo aqui a excessão para esta regra desagradável. Não, os rostos na tela não são familiares e eu me esqueci de mencionar uma variação da regra, que é a de colocar gente famosa em continuações de filmes bons, para compensar por roteiros decepcionantes, mas este truque não foi necessário aqui, depois do sucesso do primeiro filme com seu elenco quase todo desconhecido. A opção de trazer gente empenhada para fazer bonito, exatamente por não ter uma carreira estabelecida, é muito apreciada. Naomi Scott, que fez aquele live action do Aladdin que ninguém viu, lidera o elenco do filme sem medo e com uma entrega impressionante. Ela é muito bonita e isso não a limita, não só na hora de sujar toda a cara de sangue, mas também quando a personagem demonstra, em doses iguais de embaraço para todo mundo, as expressões mais arrogantes e as mais vulneráveis. Ajuda bastante ter uma boa seleção de diálogos verossímeis, construídos para deixar uma história fantasiosa muito mais realista.
Do filme anterior, também foi reproduzida a sensação de isolamento da amaldiçoada, mesmo que ela seja famosa, com montagens da rotina atípica da personagem, cheia de ensaios e autógrafos, já que se trata de uma profissão incomum, justamente para enfatizar o quanto o pedestal no qual ela vive, não será a salvação. No final do dia, ou no final do prazo estipulado pelo vilão, os seguranças e assistentes, os bailarinos e executivos da gravadora, não farão muita diferença. Ela pode ser especial para muita gente, mas para o monstro que não tem nenhuma intenção de parar, ela é só mais uma. Mesmo sendo uma série de eventos que já conhecemos, por seguir um molde que varia muito pouco de vítima para vítima, é interessante e assustador ver a jovem perdendo o chão, sozinha ou cercada de gente, em casa ou ambientes mais formais, com longas cenas de tortura psicológica, nas quais gritar só diminui a credibilidade dela e com sustos rápidos, sempre eficazes, acontecendo todas as vezes em que relaxamos ao som de música pop. Eu também tinha me esquecido deste detalhe… não existe paz em Sorria, nunca! Atormentada pela desconfiança de quem acompanhou a jornada de reabilitação, tanto quanto pelas visões inseridas na mente dela, Skye entra em desespero e bem rápido. É como se o demônio não pudesse deixar rastros da própria passagem, se certificando de que quando o ato derradeiro acontecer (algo que o público repudia esperançosamente pelo filme inteiro), os mais chegados da vítima estarão convencidos de que ela estava enlouquecendo.

Para ser considerado realmente uma continuação que supera o filme original, que eu acredito ser a intenção desta produção, um novo plano de sobrevivência precisava ser apresentado. Algo mais apropriado, não apenas para uma pessoa que chama muita atenção, mas para qualquer um que não tenha experiência em causar violência. Que legal que a nova estratégia, venha acompanhada de cenas ainda mais sinistras do que as do primeiro filme. Estou falando bem sério neste quesito, porque não é fácil impressionar fãs de terror. Muitas vezes vemos as alucinações enganando a jovem, sem poder fazer nada por ela, mas é no filme 2, do que eu espero ser uma franquia longa e de qualidade, que o público é feito de bobo com uma intensidade, que uma sensação de O Sexto Sentido se forma, nos encorajando a ver o filme todo novamente, mesmo que ele seja meio longo e com uma queda para o musical em diversos momentos. A trilha sonora está um pouco diferente, mas igualmente desconcertante e marcando presença positivamente em diversas cenas. O diretor Parker Finn tomou para si uma missão muito difícil, a de continuar sua criação de maneira maior e melhor… e ele não falhou!
