Para ingressar em uma fraternidade cheia de homens de péssima índole, dois universitários aceitam um trote/sacrifício, que pode custar no mínimo a expulsão da instituição de ensino e no máximo o fim do mundo. No segundo prólogo do filme, em preto e branco e nos anos 50, ou seja, muito antes de conhecermos os estudantes Chris e J.C. nos anos 80, um maníaco escapa do manicômio e sai matando todo mundo que encontra pelo caminho, antes de desaparecer para sempre. Por incrível que pareça, a função do maluco na história, foi interromper sem querer uma infecção de se espalhar pela região, impedindo que a molecada da época tivesse que lidar com o apocalipse zumbi, sem ter as referências indispensáveis de Romero como guia de conduta. Qualquer responsabilidade além de ser um salvador acidental, nem o assassino do assassino consegue explicar, quando confessa o crime para um estranho sem nenhuma necessidade, em uma das inúmeras cenas de absurdo cômico deste filme. Uma coisa que fica clara, é que a origem da contaminação é alienígena, como mostra o prólogo número um, mas como a legenda acompanhando o conflito na nave que libera a bactéria, não passa de baboseiras, eu vou ter que presumir que a mesma espécie brigava entre si por praticidade, porque comprar fantasias extraterrestres iguais, sai mais barato do que encomendar dois tipos diferentes. 

A Noite dos Arrepios é declaradamente uma comédia primeiro e um terror depois. Quando um personagem explica o enredo a um policial, assim que o primeiro corpo aparece, ele responde: “O que é isto? Uma investigação de homicídio ou o plot de um péssimo filme B?” Filme B, com certeza, já que infelizmente poucos sabem da existência dele, mas muito longe de ser péssimo, Arrepios foi lançado no auge dos esteriótipos do terror e estava em uma missão para quebrar todos eles. Um dos protagonistas é deficiente e a deficiência não é mencionada. A “garota dos sonhos” do outro protagonista, é vista com mais de um namorado e o detetive traumatizado, que faz bullying com outros policiais e larga bitucas de cigarro nas cenas dos crimes, pára em um deles para cheirar as flores. O filme segue a linha de paródias como Apertem os Cintos e Top Secret, contando até com piadas avacalhadas, mas o público precisa ter um certo nível intelectual para curtir melhor esta pérola, porque a maior parte do humor é sutil, como se estivesse testando a atenção e o entendimento do público o tempo inteiro, com gags visuais discretas passando rapidamente entre os acontecimentos menos sofisticados. E eu uso este termo com generosidade, porque não parece que a intenção é ser visto como esnobe, já que o roteiro simplório está pedindo para você rir dele e com ele.

O laboratório de onde o corpo será roubado por J.C. e Chris, para que eles sejam dignos de entrar para a cobiçada fraternidade “Beta” (não, não Alpha… beta!), curiosamente abriga a maior descoberta da história, ao mesmo tempo em que não possui nenhum mecanismo seguro de defesa. O espécimen em estudo, depois de ter sido recolhido por militares nos anos 50 e deixado agora nas mãos de um cientista e do zelador do prédio, como se em seu corpo não estivesse a prova de vida inteligente fora da Terra, não é exatamente um homem morto. Após pouquíssimos esforços dos dois nerds… um deles andando com a ajuda de muletas, o infectado é liberado e seus espasmos assustam os protagonistas, que fogem do local deixando a oferenda para trás. Só que uma particularidade dos zumbis deste filme, é que eles não perdem completamente a consciência e não estão super interessados em atacar os vivos. Desta forma, o experimento descongelando segue caminhando para o último local onde lembrava estar antes da contaminação: uma irmandade da universidade, que continua cheia de mulheres trinta anos depois. O infectado Johnny alcança o casarão, mas a decomposição o detém na porta. A partir dali, todos os parasitas que estavam dentro dele, estão livres para dar início a um massacre. 

Eu adoro os cenários high-tech de décadas atrás, como o laboratório deste filme. Um monte de luzes em equipamentos que não fazem muita coisa e pronto! Temos um projeto ultra secreto! A civilização extraterrestre também tem a pior caracterização que você verá na vida, com corpos claramente emborrachados e máscaras que nunca mudam a expressão, mas falem o que quiserem dos trashs da época, falem das ombreiras e das polainas, porque a maquiagem zumbi dos anos 80 continua imbatível! E eu não falo isto por nostalgia. Tudo bem que o filme fica no gênero, entre os menos providos de uma boa direção de arte, mas todo o escracho do filme, não diminui o valor dele como uma obra assustadora de terror, contando com diversas sequências arrepiantes de perseguição. Falando nisso, os infectados maratonistas dos terrores modernos são sempre bem vindos, mas nada tira o charme e o pânico, de um grupo de zumbis com uma fixação excessiva em relação a uma residência em particular, como acontece na noite do baile da universidade, quando os cavalheiros semi-falecidos lentamente se aproximam da república feminina, onde estão os “dates” que ainda têm pulso. 

Então é uma invasão alienígena ou uma apocalipse zumbi? É ambos! Com pedaços de exemplares mais famosos do terror, costurados na história para quem conseguir pegar as referências. Tem Alien, Cemitério Maldito, Invasores de Corpos e tantos outros, que até poderíamos acusar este Frankenstein de plágio, se não fosse a homenagem evidente aos diversos criadores do gênero, em personagens como Sargento Raimi, Cynthia Cronenberg, Detetive Landis, liderados na luta do bem contra o mal por Chris e J.C. (Christopher Romero e James Carpenter Hooper). O diretor e roteirista Fred Dekker sempre trabalhou com terror, mas suas melhores obras são as bem humoradas. Esta aqui deixou até o final preparado para uma possível continuação, mas, como eu disse, ninguém viu este filme. Veja agora e se divirta!