Único trabalho memorável do diretor Rod Schmidt, Pânico na Floresta tinha tudo para dar errado, especialmente pela linguagem de thrillers genéricos de outros tempos que ele utiliza. Caso você esteja boiando nesta descrição, eu falo do costumeiro prólogo introduzindo os vilões, seguido por fatalidade(s), antes da aparição dos mocinhos principais. Monstros surrupiados de um clássico de terror, na cara dura! Trilha sonora de soft rock, posteriormente substituída por uma de suspense/ação, incentivo à frieza sobre a eliminação de algum personagem, glamourizando os efeitos especiais na morte, pseudo romances-relâmpago totalmente inapropriados para a ocasião… até a tradução do título para a nossa língua, dá sinais de que este filme é a “variação ecológica” de um slasher melhor, lançado nos anos 90. Virou a década, virou o milênio e não havia a mínima intenção de inovar nada. Porém, aqui estamos nós em 2024, depois de seis sequências e uma refilmagem desta história e eu me pergunto, qual é o segredo de tanto sucesso? 

Estamos no miolo de alguma floresta no interior da Virgínia do Oeste, nos Estados Unidos, com árvores altas o suficiente para bloquear até sinais de fumaça, seguindo o jovem médico Chris Flynn, que está a caminho de uma entrevista de emprego, já arrependido de ter trocado a rodovia oficial congestionada, pela estradinha de terra clandestina e bem mais perigosa. Chris bate o carro em outro que estava parado, pertencente a um grupo de amigos que estava ali para acampar. Ninguém se feriu, mas os veículos estão destruídos, então o segundo erro foi separar as turmas, para que alguns procurem ajuda se enfiando ainda mais na floresta e outros permaneçam ao lado dos carros. O primeiro erro foi desconsiderar a armadilha, que estava no chão precisamente para provocar acidentes. Guardas florestais, um telefone, um meio de transporte que funcione… qualquer coisa que aparecer é lucro e eventualmente eles encontram um chalé, que com imagens e odores grita: “Fiquem longe!”. O terceiro erro foi a lerdeza para ignorar os sinais óbvios, antes que os donos da casa retornassem, com o que sobrou da galera que ficou tomando conta dos carros.

O filme conta com um monte de gente que facilita e muito o trabalho dos vilões. A princípio, temos a ininterrupta circulação de presas, que insiste em se enfiar em um bosque onde dezenas de pessoas desaparecem sem deixar rastros todos os anos. Bom, na verdade, os rastros estão em toda a parte. Em um momento durante a fuga, quando os amigos alcançam uma área que parece bem afastada da casa principal, há um cemitério de veículos, cheios de pertences das vítimas que foram sequestradas anteriormente. Uma simples checagem nos números das placas, resolveria casos arquivados e em aberto por todo o estado, mas para isso, a polícia teria que fazer aquela varredura que, eu juro, nem precisaria de helicópteros ou muitos recursos além do profissionalismo. Só que todas as vezes em que as autoridades aparecem, é um assalariado sozinho e confuso sobre os relatos de violência… no bosque das almas perdidas… sendo eliminado em poucos segundos após a chegada. Entre os personagens principais do grupo de vítimas, temos uma sobrevivente que se destaca, não pelo tempo de cena, ao contrário de outros rostos mais conhecidos, mas pela imbecilidade persistente, que faz dela a ovelha do sacrifício do filme. Carly, com sua infantilidade e impulsividade, é a escolhida do roteiro para atrapalhar a turma, espelhando outro costume irritante de terrores antigos. Ela é aquela que já desiste de se salvar antes de começar a lutar, atrasando todo mundo e contando com a aceitação da derrota como suporte emocional. Tadinha, escrita para morrer e não fazer falta.

Os monstros não estão em grande número, mas possuem uma vantagem interessante, que os mantém no jogo de gato e rato, por muito mais tempo do que eventuais contra-ataques permitem, com vilões em situações semelhantes. Se a fórmula da família de canibais isolados, enlouquecida pela genética desfavorável parece familiar, é porque é para ser! A diferença é que o cenário rural de Massacre da Serra Elétrica (74), ou desértico de Quadrilha de Sádicos (77), é substituído pela floresta densa com várias rotas de escape, muito bem exploradas pela direção e que eventualmente se transformam em uma armadilha ainda maior, para vítimas cansadas, traumatizadas, com o umbiguinho de fora em trajes inadequados para uma luta pela vida e não podemos esquecer, em um território enorme e desconhecido. É de extrema importância reconhecer, com as incongruências da história, que a resiliência dos perseguidores deveria ser motivo de indignação por parte do público, mas o contrário acontece. Depois de um determinado número de golpes sofridos, ver os monstros se levantando mais uma vez e mais outra vez, gera uma sensação de desespero tão grande, de estar assistindo a uma maldição interminável, que ignoramos que não se trata de um filme sobrenatural, em prol do terror que a narrativa proporciona. 

Então, qual é o segredo? Segredo nenhum! O filme é simplesmente divertido. Tem uma sequência diferente de tudo o que vemos por aí, que é a da fuga de parte do grupo há vários metros de distância do solo, de galho para galho das árvores altíssimas. Ela é de tirar o fôlego, longa, tensa e imprevisível, acontecendo após uma decisão difícil e corajosa, que não recompensa pelo esforço, deixando a molecada comendo na mão dos canibais mutantes, que são muito mais capazes e cheios de recursos para se locomover naquelas condições. A qualidade das atuações e dos diálogos, parece acompanhar a compreensão dos personagens sobre a seriedade da situação. Com tantas regras que o filme segue, para não perder a referência das obras que muitas vezes imita, é notável que os métodos das mortes seja tão aleatório que não saibamos o que esperar, com vítimas eliminadas das maneiras mais bárbaras às mais discretas, apenas na base da sugestão. Poderia ter sido um clássico, porque há o que corrigir, mas vale a pena! Eu só não colocaria minha mão no fogo pelos outros seis filmes.