As pistas não fazem sentido, mas elas aparecem por todo o filme, em meio à tristeza que toma conta da casa… do medo que invade as mentes de pessoas que sempre se orgulharam da própria racionalidade, muitas vezes amparadas por figuras bondosas, entrando e saindo daquela propriedade; mas ainda assim, são pessoas sem a autonomia para entrarem em seus carros (que não apresentam problemas mecânicos nem nada) e dirigirem para bem longe. Estas pistas indicam que um grande mistério precisa ser solucionado, enquanto somos bombardeados por cenas em um espectro que vai do susto barato, ao verdadeiramente perturbador. Só que é aí que mora a grande questão do filme, porque literalmente os últimos segundos dele, desfazem o que eu considerei uma promessa, de forma bastante abrupta. Somos capazes de apreciar o terror pelo tempo que ele dura, sendo que não recebemos a justificativa dele no final? Me vem à mente uma resenha que se tornou notória no mundo do cinema, pela fama do crítico, o falecido Roger Ebert, que massacrou A Vida de David Gale (2003) de Alan Parker, por conta dos minutos finais do filme, que tiveram a capacidade de destruir completamente a condução do que era uma ótima história até então. Estava indo tudo tão bem, no seu filme/protesto sobre a pena de morte senhor Parker, para quê inserir aquela informação, questionava Ebert. Aqui é um pouco diferente, porque informação extra era tudo o que queríamos. Se não fosse para mudar nossas percepções sobre os acontecimentos, que fosse para concluir a história, que já não estava assim tão perfeita até ali.
A sugestão de Demoníaca, do diretor Bryan Bertino (que também é responsável pelo ótimo “Os Estranhos” de 2008), é que você não pisque! Virginia, a mãe de uma certa idade, costura, supervisiona as cabras, supervisiona o marido moribundo, descreve as assombrações no diário pessoal e cozinha, nos distraindo enquanto algo se aproxima. Ela sabe o que ronda a casa, ou não ficaria tão alarmada com barulhos típicos de propriedades rurais. A gente também fica sabendo do que se trata logo cedo, porque quando uma entidade daquele naipe aparece em filmes de terror, é impossível confundir com “encosto normal”. Não pisque porque a aparição não dura dois segundos, se escondendo entre os animais no celeiro, mas não existem dúvidas: um demônio está no local, com todos os benefícios que a função deles têm, de acordo com os filmes do gênero. Resta saber o que pode acontecer e qual é o interesse de um ser de tanto poder e tanta maldade, em uma casa humilde e afastada no interior de uma cidade pequena, sendo que os moradores são dois idosos e somente um deles está consciente.

Com a notícia da piora do pai e desconsiderando o pedido da mãe, os irmãos Michael e Louise retornam ao rancho da infância, para acompanhar o processo iminente de despedida e dar apoio à Virgínia. Esta por sua vez, tinha o objetivo prático da avisar aos filhos sobre a situação, sem esperar a visita de ambos. Na verdade, não há nenhum esforço para esconder a raiva que ela sente com a chegada deles. Não é uma família muito unida, mas não houve briga ou qualquer outro incidente que explicasse tanto incômodo. Virgínia dá um belo chilique, dizendo para os filhos adultos, com suas vidas próprias em lugares distantes, que eles deveriam saber que é uma estupidez, essa foi a palavra usada ao invés de “desnecessário”, por exemplo… uma estupidez, a decisão de Michael e Louise de terem voltado para casa. Infelizmente a grosseria está longe de ser o pior ato da mãe, nos dias em que os filhos se dispuseram a permanecer longe das próprias rotinas, para ajudá-la com a preparação para a partida do pai. É uma ação tão chocante, que momentaneamente me fez esquecer alguns diálogos de sentido ambíguo entre a família e os agregados, que precisam ser revisitados quando buscamos por clareza ou por motivos, posteriormente no filme.
Este é um filme de terror, que anuncia desde os primeiros momentos que o é, desencorajando qualquer desavisado que não curta este tipo de diversão, mas que poderia trombar com esta produção acidentalmente. Enquanto muitos filmes de terror tentam percorrer um caminho mais discreto, para atrair um público mais amplo… os chamados “turistas no gênero”, Demoníaca foi feito com o propósito primordial de causar medo. A história se passa na maior parte durante a noite, com uma fotografia competente e apropriada para tal, mas a luz do sol também não intimida o demônio, que brinca sem parar com os familiares, enquanto aguarda o último suspiro do patriarca, cuja alma é aparentemente muito valiosa. Se existe a oportunidade de criar sombras sem origem nas paredes, vultos nos corredores ou uma alucinação traumatizante, ela nunca é perdida. O que mais chama a atenção no filme, no entanto, não são os artifícios habituais que repelem os que não gostam do terror, mas sim as ferramentas que surpreendem os entusiastas como eu. Existe aqui uma coleção assustadoramente criativa e desconcertante de cenas, até para quem está acostumado com imagens fortes. Uma em particular, envolvendo uma das cabras criadas na propriedade, permanece com o público por algum tempo e eu reconheço a necessidade destas ousadias, que destacam uma obra entre tantas outras de enredos semelhantes, que inevitavelmente sofrem uma fusão nas nossas cabeças.

É intrigante que um lar que nunca mencionava Deus, tem o diabo como o assunto mais comentado de uma hora para outra. Louise é a primeira a ter visões de tirar a paz de qualquer um, recebendo também a maior e nada suave carga de assédio paranormal que nos é mostrada. Ela é uma em uma família de quatro ateus sob aquele teto amaldiçoado, sendo forçada a se converter na base do susto constante. O tempo que Michael, o mais resistente, tem para considerar a hipótese de histeria coletiva, é bem curto. Com o pavor do invisível sentido pela mãe e com a irmã cada vez mais incapaz de disfarçar o próprio pânico, ele até tenta ser o racional da casa, já que alguém precisa ser, porém, qualquer cético questionaria eventos não apenas sem lógica, mas malignos, depois que estes são testemunhados em primeira mão, em mais de uma cena longa e cheia de crueldade. Uma vez que só faltava ele ver, o que ele jamais acreditaria se alguém o contasse, o filme entra em uma situação excepcional, na qual os pais na casa mal assombrada já envelheceram, mas não trazem sabedoria e os filhos estão bem grandinhos, mas apavorados como crianças indefesas. Ninguém sai e se tentar sair, não há garantia nenhuma de salvação.
Eu recomendo? Claro que sim, o filme é repleto de terror dos mais variados tipos, chegando com uma grande cota de diversão, por assistir ao medo do sobrenatural tomando conta de gente aparentemente protegida, pelas suas capacidades intelectuais e físicas. É quase uma experiência semelhante a ver A Morte do Demônio, se o filme dos anos 80 fosse completamente desprovido de humor. Toda vez que o sol vai embora e eles ainda não arrumaram uma solução para o que os prende no local, meu coração dói, pelos irmãos que ninguém condenaria por dar no pé sorrateiramente. Dá para assistir ao filme novamente? Eu confesso que sim, porque uma parte de mim sente que deveria ter prestado ainda mais atenção, ao que pode ter ficado subentendido na história. Será que Louise e Michael esqueceram o passado da família? Será que o passado importa tanto quanto eu penso, nesta história que pode ter dado erroneamente a impressão de ser simplória? É possível que uma segunda sessão, deixe este filme ainda mais frustrante? Com certeza! Fica claro com o desfecho, que o lance é sobre a jornada, mas esta também pode se revelar ainda menos densa, do que insinuaria a lembrança da primeira sessão.

Filme fraco demais. Bem comum. As vezes podem colocar que é pelo final, mas o filme é o mais do mesmo.
Se você estiver com tempo e quiser apreciar uma obra que vai te segurar a atenção e te decepcionar por não entregar nada, esse filme e perfeito