Um homem acorda com amnésia de um acidente de carro no meio do nada. Sangrando, ele consegue chamar a atenção de um carro que se aproxima. Que bom que os ferimentos não eram graves, porque ele precisava ser ligeiro, para desviar do veículo que avançou na direção dele, antes de parar no acostamento. Foi sem querer… a motorista morreu de repente. Ele pega o telefone dela e chama a polícia, mas desiste de esperar no local, quando um pássaro cai morto em cima do carro. Caminhando por um bom tempo, sem rumo, ele chega em um restaurante de beira de estrada e percebe que todos, clientes e empregados, estão mortos também. Liam, que descobre o nome olhando na identidade que estava no bolso, presume que o fenômeno só pode ser o resultado de uma contaminação, seja ela acidental ou proposital, cobrindo o rosto para não morrer também. Sem memória, mas bastante observador, ele acaba percebendo que é imune e resolve fazer alguns testes. O problema não é um ataque biológico. O problema é o próprio Liam.

Zona Mortal é uma ficção-científica dramática de terror misterioso. Sim, todos estes gêneros e se bobear, mais alguns que eu não devo ter percebido, passeando o tempo que julga necessário em cada categoria, para que possa pertencer sem questionamento a todas elas. O terror propriamente dito, não está limitado, porém concentrado nas porções iniciais e finais do filme. A produção possui uma atmosfera de episódio de Além da Imaginação, principalmente no começo, quando pela descrição do enredo e a maneira como a informação é distribuída, temos a sensação de que a premissa, mesmo sendo interessante, não vai conseguir carregar o filme por mais do que meia hora. Os poucos figurantes, os atores principais desconhecidos e as diversas sequências em locações de baixo custo, reforçam esta noção de coisa feita para a televisão. Em relação a estas presunções, no entanto, este independente sorrateiro se mostra bastante hábil para prender o público, divulgando seus diversos segredos nos momentos certos e também prova que sabe fazer bom uso do orçamento limitado, reservando a grana dos efeitos e cenas mais elaboradas, para quando elas se fazem necessárias.
Uma sacada bem legal do roteiro, é oferecer inicialmente uma explicação plausível para o fenômeno, na qual Liam e o público acreditam, até que ele constate a verdade, mas deixando a versão do terrorismo doméstico para as autoridades. Por ser a única coisa que faz sentido fora do sobrenatural, o pânico da população isola Liam sem causar revolta em quem assiste ao filme. Coitado, ele é literalmente o homem tóxico em todos os ambientes nos quais esteja. Todo mundo que entra no alcance do raio de alguns metros, que parte dele em todas as direções, sabe Deus por que razão, morre! Bom, quase todo mundo. Liam não estava sozinho naquele acidente e para trazer um pouco de alívio para a condição terrível dele, aparece uma mulher igualmente sem memória, com uma solução temporária, mas eficaz, neste filme cheio de reviravoltas, onde ela, ele e outros personagens que iremos conhecer, estão apenas aguardando as lembranças retornarem, para que o filme abandone aos poucos os outros gêneros e volte para o terror.

Em alguns momentos, a linguagem televisiva invade a narrativa, deixando a história mais lenta do que o necessário e os personagens principais, sortudos além do razoável. Para economizar alguns encontros esclarecedores, Liam e a Joana-Ninguém recebem informações importantes como todo mundo, através do noticiário, mas ainda conseguem estar sempre à frente de todos os policiais, que são mais incompetentes do que dá para desculpar. Eu não mencionei ação, mas existe e é na maior parte bem divertido de ver. O casal, que não está envolvido romanticamente, possui uma dinâmica de interação diferente e original, além de crucial para o desenrolar dos eventos e o filme explora isso muito bem, colocando os dois em situações que desafiam a prática desta dinâmica. Muitas coincidências incomodam no roteiro, assim como o comportamento de alguns personagens, mas o filme é criativo e mantém o expectador entretido, mesmo nos momentos em que ninguém tem um plano, ou uma possível cura em mente. É uma obra cheia de camadas, que fornece a resposta para a pergunta principal do filme, de maneira filosófica e cheia de sensibilidade. O caminho é um pouco torto, mas a nossa atenção está sempre voltada para ele e o final é mais do que satisfatório.
